Metaverso atrai empreendedores brasileiros, que já fazem dinheiro na nova fronteira digital

Mercado mobiliza não só 'big techs' e deve movimentar entre US$ 8 trilhões e US$ 13 trilhões no mundo até 2030, segundo um relatório do Citi
Pontos-chave:
  • No Brasil, só no setor audiovisual, há pelo menos 138 empresas atuando em experiências imersivas

Aposta das gigantes da tecnologia, o chamado metaverso promete integrar os ambientes físico e digital por meio de uma combinação de novas soluções. Esse futuro já é realidade para muitas empresas, incluindo mais de 130 no Brasil que fazem dinheiro com inserções em realidade virtual (RV) e aumentada (RA) e outras inovações precursoras dessa evolução da internet que já estão em uso e têm grande potencial econômico, segundo especialistas.

A corrida por um lugar ao sol nesse mercado mobiliza não só ‘big techs’, mas empresas de diferentes portes que devem movimentar entre US$ 8 trilhões e US$ 13 trilhões no mundo até 2030, segundo um relatório do Citi, com cerca de 5 bilhões de usuários.

No Brasil, só no setor audiovisual, há pelo menos 138 empresas atuando em experiências imersivas, segundo o “Mapeamento do Ecossistema XR (realidade estendida) no Brasil”, realizado entre julho e agosto de 2020 por UFSCar e UFRJ, com apoio do Instituto de Conteúdos Audiovisuais Brasileiros (ICAB). Embora cerca de 50% delas se encontrem no estágio emergente ou de start-up, empreendedores e empresas brasileiras contam que já estão lucrando nessa área.

Realidade aumentada

Uma delas é a R2U, startup criada em 2016 em São Paulo com foco em realidade aumentada. A empresa tem soluções como a que permite ao consumidor visualizar um produto em 3D num site de vendas até a projeção do item customização em tamanho real do ambiente. Quem compra uma cadeira pode, por exemplo, checar se ela fica bem em sua mesa.

Simulação na tela - CEO da R2U, Caio Jahara, de 29 anos, testa solução de realidade aumentada que permite visualizar produtos como uma cadeira em uma sala Foto: Maria Isabel Oliveira / Agência O Globo
Simulação na tela – CEO da R2U, Caio Jahara, de 29 anos, testa solução de realidade aumentada que permite visualizar produtos como uma cadeira em uma sala Foto: Maria Isabel Oliveira / Agência O Globo

Comandada pelo CEO Caio Jahara, a empresa levantou, no início de 2020, US$ 800 mil numa rodada de investimentos liderada pelo fundo de capital de risco Canary, com a participação de NorteVC, EquitasVC e Coteminas. No ano passado, logo após o Facebook mudar seu nome corporativo para Meta — refletindo a aposta do fundador Mark Zuckerberg no metaverso —, a R2U lançou a Converge, unidade focada em serviços para o metaverso. E deslanchou no e-commerce.

“Oferecemos uma solução para empresas entrarem no metaverso. Desenvolvemos a estratégia, o conceito e implementamos os anéis de valor necessários ao projeto: da locação de terras (digitais), passando pela modelagem 3D dos espaços, gamificação e montagem de NFTs até a portais de pagamento. Hoje, temos mais de 40 clientes”, diz Jahara.

O desenvolvimento de espaços virtuais em 3D, com navegação 360°, é um dos serviços mais procurados pelos clientes da Pixit, criada em 2009. A martech (como são chamadas startups de marketing digital) paulistana comandada por Flávio Machado acompanhou boa parte da evolução da internet: começou com compressão de vídeos curtos, produziu conteúdo em vários formatos, e, desde 2019, cria ambientes virtuais — ou “metaversos”, como define o executivo — ao unir software 3D de arquitetura com sistema de gestão de conteúdo.

Na carteira de clientes estão empresas que vão do agro à química, como Basf, Syngenta, Coopercitrus, Janssen e Braskem. Um dos seus primeiros desafios foi, no início da pandemia, realizar uma feira on-line com 140 expositores que ocuparia 12 mil metros quadrados na vida real.

“Foi nossa prova de fogo. Construímos esse ambiente em 40 dias e foi um sucesso no ar”, diz  Machado, que investe 22% da receita líquida em pesquisa e desenvolvimento e não para de contratar.

Em 2020, a Pixit  tinha 32 colaboradores, hoje tem 80. A empresa deve abrir este ano de 40 a 50 vagas.

Olivia Merquior estuda há anos a relação entre moda e inovação e acabou se tornando uma das maiores especialistas na chamada moda imersiva do país. Em 2017, quando foi ao festival da indústria criativa South by Southwest (SXSW), nos EUA, o lançamento de uma jaqueta conectada da Google com a Levi’s a inspirou numa jornada rumo a criações disruptivas nessa área.

“Ali me deu um estalo. Entendi que a tecnologia ia migrar para a moda porque eles (as ‘big techs’) entenderam o que fazemos: criamos desejos imaginários”, diz a estilista digital, que vive no Rio.

Em 2019, Olivia apresentou, junto com o designer Lucas Leão, um avatar em 3D na São Paulo Fashion Week (SPFW). Em 2020, os dois levaram uma coleção de roupas em vídeo 3D à Brasil Immersive Fashion Week, primeira semana de moda imersiva da América Latina criada por Olivia.

Em outubro, a terceira edição vai reunir marcas tradicionais e digitais, com exposição de roupas virtuais, desfiles em realidade aumentada e outros recursos.

Habilidades valorizadas

As empresas que exploram o metaverso estão atrás de pessoas familiarizadas não só com tecnologia, mas também com metodologia ágil, forma comum de conduzir projetos na área de TI. Surgem profissões como modelador 3D, artista técnico, world builder e level designer. No campo criativo, profissionais com capacidade de visualizar espaços e contar histórias de maneira imersiva (storyliving e storytelling) também são demandados.

Familiaridade com tecnologia

As empresas que exploram o metaverso estão atrás de pessoas familiarizadas não só com tecnologia, mas também com metodologia ágil, forma comum de conduzir projetos na área de TI.

Habilidades com game engine

A indústria de XR traz bastante profissionais da indústria de jogos. Profissões como modelador 3D, artista técnico – responsável por construir a parte de textura e materiais dos objetos e personagens nas game engines -, level designer – criação de níveis, campanhas e missões em jogos eletrônicos -, world builder – capaz de criar mundos complexos – também seguem em alta.

Desenvolvimento

O setor técnico que continua sendo requisitado é o de desenvolvedores. Programador de C#, programador C++, blueprints, e Script Visual são bem requisitados. “Com certeza web developers com habilidade em WebGL e alguns outros motores gráficos que permitem renderização 3D e RA e RV na web, além de desenvolvedores acostumados com mobile pra desenvolver RA, desenvolvedores Android e iOS“, complementa Pedroza, da Broders.

“Hoje, existem muitas vagas para programadores especializados nessas inúmeras linguagens e plataformas de metaverso. É difícil achar mão de obra qualificada. Não é necessário você ser formado numa graduação clássica, você pode ser muito bom em uma linguagem, como fazem muitos desenvolvedores hoje”, diz Bernardo Mendes, da Druid, que conecta grandes marcas com influenciadores e o público gamer.

Criatividade

No campo criativo, profissionais com boa capacidade de visualizar espaços e contar histórias de maneira imersiva – storytelling e storyliving – também são demandados. “O mercado criativo é o que faz experiência acontecer”, complementa Mendes.

Community manager

O profissional dessa área é responsável por construir e gerenciar as comunidades e redes sociais, fazendo interações e representando a forma como a marca se comunica com os usuários. Aqui se encaixam profissionais de diferentes áreas, incluindo comunicação e marketing.

 “O importante é se envolver, ter curiosidade, não ter preguiça de se jogar, mergulhar nas notícias do meio, participar das comunidades, ficar atento ao que está saindo de novidade. Se tiver condições, comprar óculos e experimente participar do mundo”, sugere Pedroza.