‘Não falta muito para o ESG avançar no Brasil’, diz CEO da Raízen

Empresas que oferecem produtos ESG de baixa emissão de carbono recebem um 'premium alto', diz Ricardo Mussa

O mercado financeiro no Brasil já paga um prêmio alto para empresas abertas que oferecem produtos de investimento com baixa pegada de carbono. Não falta muito para o Brasil avançar na agenda ESG, diz o CEO da Raízen, Ricardo Mussa. A produtora de biocombustíveis e açúcar tem contratos comerciais que oferecem um bônus por redução de carbono.

“Hoje é muito mais fácil fazer uma conta de redução de emissão de carbono de um determinado equipamento. Antes nós fazíamos isso na esperança de que alguém pagaria um prêmio. Hoje já temos isso”, diz Mussa, citando que companhias podem emitir CBIO (Créditos de Descarbonização) na bolsa de valores. Além do Brasil, outros mercados internacionais pagam bônus por produtos de zero emissão exportados, aponta o CEO da Raízen.

Demanda por ESG manterá mercado aquecido, diz Mussa

Para Ricardo Mussa, o mercado de etanol e açúcar em 2023 está cercado de incertezas quanto à oferta e demanda vinda de fora do Brasil. A falta de perspectiva para o fim do conflito entre Rússia e Ucrânia e os efeitos da guerra no preço do petróleo “não deixam as coisas muito claras”.

O CEO da Raízen, entretanto, diz que a safra de cana-de-açúcar para a produção é aguardada com otimismo. “Não só teremos uma safra melhor, assim como teremos mais produção no ano que vem e mais disponibilidade de produto”, Mussa falou à Inteligência Financeira Macro Vision 2022, evento do Itaú BBA que chegou a 14ª edição na última quinta-feira.

Por outro lado, o CBIO deu fôlego à demanda por títulos ESG de baixa emissão de carbono, avalia o executivo. Isso deve manter o mercado de biocombustíveis e açúcar aquecido, pelo menos incentivando a produção verde. “Vejo um mercado positivo para o ano que vem”, diz Mussa.

Em seu último relatório sobre a Raízen, o BTG Pactual manteve sua recomendação de compra para as ações da companhia (RAIZ4) na bolsa de valores, sob um preço alvo de R$ 10. O banco “enxerga potencial de crescimento” no valuation da Raízen, e mostrando que a empresa de Mussa continua como “a campeã verde” que o banco acreditava ser.

China pode pressionar demanda por commodities

“O que temos de novidade no curto prazo é a reabertura do mercado chinês. Isso pode trazer uma demanda adicional às commodities. O açúcar é uma delas, o que poderia, portanto, pressionar nosso setor no curto prazo”, afirma o CEO da Raízen.

Mas ocorre que, segundo o executivo, o mercado de etanol e açúcar, no momento, “não está muito equilibrado” justamente pela pressão da demanda de curto prazo.

A guerra entre Rússia e Ucrânia ganha destaque porque pode jogar os preços do petróleo para baixo, fazendo descer também o custo do etanol brasileiro e produzido pela Raízen.

Raízen bate recorde de exportação de etanol

Perguntado se o etanol brasileiro teria um teto potencial de participação no mercado internacional, o executivo disse que a demanda vem do setor não-carburante. Ou seja, o maior consumidor de etanol é a indústria, segundo Mussa, e não do setor automobilístico. “E esses são setores que também estão fugindo do carbono fóssil, o que provoca uma demanda muito maior nesse mercado industrial”.

Ou seja, o teto que pode ser atingido pelo etanol brasileiro é grande — uma boa oportunidade para a Raízen.

Estamos batendo recorde de exportação de etanol, e a expectativa é de que o ano que vem seja similar. Repito, é uma demanda muito maior no mercado industrial do que no carburante.

Ricardo Mussa, CEO da Raízen

Veja a entrevista completa com o CEO da Raízen