Queda de 0,1% do PIB pode mudar a trajetória da Selic e, radicalmente, a dos seus investimentos

Desaceleração do PIB no terceiro trimestre pode parecer pequena, mas o fraco desempenho da economia afeta o seu bolso
Pontos-chave:
  • Há divergências sobre a entrada do Brasil em situação de recessão real
  • A unanimidade é de que o futuro, inclusive para os investimentos, é desafiador
  • O resultado ruim pode fazer com que a taxa básica de juros suba menos que o esperado

Além da PEC dos Precatórios, a notícia da semana foi o resultado ruim do PIB (Produto Interno Bruto), que caiu 0,1% no terceiro trimestre na comparação com o segundo, que já havia apresentado queda. Apesar de parecer muito distante do seu bolso, o resultado fraco da economia brasileira afeta diretamente todos os brasileiros. Um dos impactos mais esperados é uma mudança no ciclo de alta da taxa básica de juros, a Selic, algo que afeta todo tipo de investimento. 

Recessão real ou técnica?

Com o resultado divulgado ontem, o Brasil entrou em recessão técnica, que acontece quando a atividade econômica cai por dois trimestres consecutivos. A ideia de estabelecer duas quedas seguidas como parâmetro é mostrar que a economia passou por um choque e não conseguiu se recuperar nos três meses seguintes. 

A recessão técnica, porém, é diferente da real, que acontece quando vários indicadores econômicos têm queda ao mesmo tempo. A fintwit, comunidade de investidores no Twitter, foi pautada pela discussão de recessão real versus técnica nesta semana, mas, independentemente da pauta, fato é que a economia não vai bem. A atividade recuou e não dá sinais de que mostrará reação relevante nos próximos trimestres.

“O quarto trimestre caminha para um resultado muito próximo de zero”, avalia André Perfeito, economista-chefe da Necton ao lembrar da desaceleração da indústria em outubro, desemprego ainda alto e black friday abaixo das expectativas. 

Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, vê o Brasil ainda em recessão técnica, mas caminhando para uma recessão real, que acontece quando vários indicadores econômicos têm retração. “Até agora foi recessão técnica, mas entramos na parte mais difícil do crescimento”, diz. 

No lado da oferta, a notícia desta sexta-feira (3) não é nada animadora. A produção industrial caiu 0,6% em outubro enquanto o mercado esperava uma alta de 0,6%. Já a confiança do consumidor, medida em novembro pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) ficou em 74,9 pontos – o índice varia de 0 a 200 e a medição abaixo de 100 indica pessimismo. Já o indicador da confiança do setor de serviços, que tem peso enorme no PIB, caiu em novembro e ficou em 96,8 pontos. 

Mudança na Selic

A recessão técnica não esperada pelo mercado pode mexer nos planos do Banco Central para a política monetária. O aumento rápido da taxa básica de juros (Selic) acontece como uma tentativa de controlar a inflação. Porém, com uma atividade econômica mais fraca, os preços tendem a subir menos, o que pode fazer o BC aumentar menos a taxa de juros, mas mantê-la em patamares elevados por mais tempo. 

Ou seja, ao invés de subir a Selic a 13% ao ano, por exemplo, a autarquia pode pensar em jogar a taxa para 11,5% ao ano, mas demorar mais para diminuir os juros. 

Victor Beyrute, economista da Guide Investimentos, diz que “os dados fracos corroboram com o movimento do Banco Central, mas os preços ainda estão pressionados”. Para ele, a Selic deve ficar entre 11,5% e 11,75% ao ano a partir de março do ano que vem. 

A Nova Futura Investimentos via uma alta agressiva da Selic em 2022, mas “o PIB de ontem jogou uma pá de cal nessa tese”, segundo Nicolas Borsoi. Ele, assim como André Perfeito, é um dos economistas que projeta uma Selic alta, acima de 11% ao ano, por um período mais longo.

O que você faz com seu dinheiro?

Num momento como este, muitas incertezas e as poucas certezas são negativas, você tem algumas alternativas para proteger seu dinheiro. Uma delas é aproveitar que nossa moeda está fraca e adaptar sua carteira de investimentos. Ações, BDRs, ETFs e até títulos do governo atrelados à inflação são uma boa alternativa.

Ainda na renda variável, o que todo mercado financeiro espera é que 2022 não será um ano tranquilo. Até porque, além de todo cenário econômico, ainda teremos eleições presidenciais, evento que normalmente já agita a Bolsa de Valores. Os investidores verão os ativos ficarem ainda mais voláteis, com desaceleração do crescimento. Mas, isso não significa que não iremos encontrar boas oportunidades. Mas você terá um trabalho extra pela frente.