Pesquisa mostra o que os brasileiros mais pagaram com cartão de crédito em 2021

Maiores gastos foram com reforma da casa, carro, produtos de beleza, animais de estimação
Pontos-chave:
  • 96,2 milhões usaram cartão de crédito no Brasil em 2021
  • Os gastos com salões de beleza, massagem e spa cresceram 47%

Em 2021, 96,2 milhões usaram cartão de crédito no Brasil, de acordo com o mais recente Relatório de Cidadania Financeira do Banco Central. Apesar de uma redução importante de 39 para 36 milhões de novas operações só entre janeiro e julho, em dezembro o número de clientes com novas concessões retomou ao patamar de 2019, de acordo com o BC. A Credicard fez um levantamento de como eu e você e todos os brasileiros usamos o cartão em 2021.

A pesquisa detectou, por exemplo, um forte crescimento de gastos com reformas de imóveis, enquanto as despesas com viagens recuaram. Bem óbvio, uma vez que ainda estávamos em pandemia.

Segundo o levantamento, o pagamento de empreiteiros teve um aumento de 53%. Na mesma linha, houve aumento de 68% nas despesas dos clientes relacionadas ao serviço de arquitetos responsáveis por projetos de reforma.

A rotina de trabalho remoto e outras atividades, como estudos e cuidados via telemedicina, gerou a necessidade legítima de mais conforto, na avaliação de Paula Sauer, professora de economia comportamental da ESPM. “Estamos falando de dois anos em casa. Não dá para ficar improvisando um escritório, uma sala para estudar. Isso acabou imputando às famílias uma despesa que antes não era urgente, porque o espaço do trabalho e da escola estavam disponíveis”, comenta.

Só em itens decorativos, as pessoas gastaram 64% a mais na comparação dezembro 2021 ante ao mesmo mês de 2020. “Em uma reforma, o viés comportamental faz com que você ignore os valores gastos. É como se o cérebro falasse: ‘já que comecei, não tem problema gastar um pouco a mais para incrementar o projeto’. O sunk cost, se traduz em um gasto 30% maior do que o valor planejado nos casos de reforma. Isso é um risco importante de endividamento”, explica.

Outro ponto de preocupação é apontado por Dirlene Silva, economista e fundadora da DS Estratégias. “Preocupe-se com a taxa de juros. Quando o parcelamento é feito pela administradora, e não pela loja, significa que em todas as parcelas incidirão juros. Antes de parcelar, é preciso perguntar em quantas vezes é possível fazer a compra sem juros”.

Gastos com o carro

Considerando aquisições que envolvem um volume maior de recursos, os gastos com automóveis e veículos (que englobam concessionárias, revendedores de carros, caminhões e motos, lojas de peças e acessórios e postos de combustíveis, entre outros) cresceram 34,7% no período, diz a Credicard.

Aumento das compras para animais domésticos

Os números da empresa de soluções de pagamentos, que pertence o Itaú Unibanco, apontam que, apesar da retomada de gastos mais associados ao consumo fora de casa (+31% em Bares e Restaurantes), em 2021, depois da casa, os brasileiros consolidaram a tendência de aumento dos gastos com os animais domésticos.

A compra de brinquedos e petiscos e serviços de banho e tosa foram as formas que os humanos usaram para retribuir os fiéis e pacientes companheiros. Soma-se a isso o fenômeno dos últimos anos de humanização — em que os pets são considerados membros da família — e a conta das PetShops ficou quase 25% maior na comparação anual. Na mesma linha, os gastos com veterinário somaram alta de 22%.

Na hora de cuidar dos bichinhos, as especialistas reforçam a necessidade de também proteger o bolso: “Eu não posso prever que o meu pet vai adoecer. Mas posso guardar um dinheiro mês a mês para que ter o recurso quando for necessário. Esse é um exemplo de situação que algumas famílias poderiam evitar um endividamento com um planejamento financeiro adequado”, comenta a professora Paula Sauer.

“É essencial entender que cartão de crédito é dinheiro e a fatura mensal do uso do meio de pagamento não pode estar acima de sua capacidade financeira. Uma compra com o cartão significa assumir uma dívida. Por isto, reavaliar os hábitos de consumo deve ser uma constante, lembrando que saúde financeira representa sobretudo, qualidade de vida”, complementa Dirlene, ao indicar a prática da regra dos 3 P’s: Por que comprar? Preciso? Posso pagar sem sacríficos, como entrar no rotativo do cartão?

Para a beleza

Outra categoria de destaque foi a de cuidados com beleza e bem estar, com um aumento constante ao longo do ano. Segundo o levantamento, os gastos com salões de beleza, massagem e spa cresceram 47% em 2021 na comparação com 2020. O faturamento no último mês de dezembro foi, ainda, o mais alto do ano. Ao observar os dados, a professora da ESPM lembra que a categoria não foi deixada de lado pelas pessoas na pandemia, só passou a ser consumida de outra forma no período de distanciamento social.

“Há um viés comportamental muito forte nessa categoria. As pessoas consomem para serem vistas de uma determinada maneira nos ambientes onde circulam. Os gastos não deixaram de ser feitos, só migraram. Teve um aumento importante nas compras feitas pela internet de cursos de maquiagem, produtos de beleza, e itens de cuidados pessoais para serem consumidos em casa”, diz.

Os menores gastos

Na contramão dos resultados, na comparação entre dezembro e novembro de 2021, os gastos envolvendo passagens aéreas (- 25%), bufê (- 10,3%) e diversão e entretenimento (-4,5%) foram afetados por conta do aumento dos casos de covid.

Com reportagem do Valor Investe