Como conversar com as crianças sobre dinheiro?

Para a administradora e escritora Thelma Ribeiro, que acabou de lançar um livro para crianças sobre dinheiro, a chave é usar as situações do dia a dia. Veja com a IF!
Pontos-chave:
  • A criança observa como os pais lidam com o dinheiro
  • É importante comemorar todas as vezes que os pequenos conseguem guardar dinheiro

A médica veterinária Thelma Ribeiro desenvolveu uma regra simples para tratar sobre dinheiro com as crianças. “Use seu dia a dia e insira a criança nas situações que envolvem dinheiro”, ensina Thelma. Ela não fala isso por acaso. Thelma trabalha na área de educação há 20 anos, faz mestrado em administração de empresas pela Chapman University, em Orange (California, EUA), e tem uma pós-graduação também em administração pela Fundação Getulio Vargas. Diretora do núcleo internacional da Strong Escola de Negócios, Thelma acaba de lançar o livro Dinheiro e finanças para crianças, que pode ser comprado nas plataformas Amazon, Americanas e Submarino. Veja abaixo a entrevista que Thelma concedeu à Inteligência Financeira:

O que se deve falar sobre dinheiro para as crianças?

A criança aprende pelo exemplo. Acabamos não falando sobre dinheiro porque temos uma ideia errada de que dinheiro não é assunto para criança. E aí, em um passe de mágica lá na frente, quando temos nosso primeiro emprego, a gente já sabe como administrá-lo. Isso não funciona. É preciso falar sobre dinheiro desde sempre. Até porque a criança observa como você, pai e mãe, lida com o dinheiro. Se você não fala e não descreve o que está acontecendo, ela assume uma verdade.

Qual é a melhor maneira para se explicar o funcionamento do dinheiro?

É inserir a criança no universo das finanças. Por exemplo: ao levar a filha ou o filho em uma farmácia, deixe que a criança entregue o dinheiro ou o cartão para o caixa. Também é importante explicar para os pequenos que os pais ganham dinheiro com o trabalho. A família toda trabalha em conjunto de formas diferentes, mas o dinheiro é necessário para pagar a moradia, os alimentos, a saúde. Ter dinheiro ou querer ter mais dinheiro não é algo ruim quando se tem um objetivo, como comprar uma casa melhor, ter um carro, viajar ou ajudar alguém.

Quando começar a falar sobre dinheiro com as crianças?

A idade é relativa, depende da dinâmica da família e das situações que a criança é exposta. Mas com 3 ou 4 anos já podemos brincar de faz de conta com dinheiro de brinquedo. Também podemos explicar que vamos no supermercado e que não podemos levar nada extra. Se a criança chorar e não conseguir controlar o impulso do que quer, os pais podem deixar ela chorando, e falar novamente que não estão ali para aquilo. Quando ela se acalmar, os pais devem lembrar o que aconteceu e falar que entendem a frustração do filho ou da menina. Mas se a criança insistir que quer aquele item, vocês podem fazer um acordo, se programar e criar um plano para comprar o que ela deseja.

Como negociar com os filhos?

Pedindo ajuda, dizendo: “você prefere colocar a mesa enquanto eu cozinho e a gente economiza, ou quer comer no restaurante e ficar sem dinheiro no final de semana?”. A chave é o diálogo e usar as situações do dia a dia. Quando fazemos isso, as conversas vão surgindo e evoluindo conforme o entendimento da criança.

Todos os pais podem falar sobre dinheiro com seus filhos?

Sim. Ninguém precisa ser o melhor investidor do planeta para falar sobre dinheiro com as crianças. Você pode, inclusive, ter problemas financeiros e dividir isso com os filhos. Falar vai ajudá-los – e te ajudar – a fazer as melhores escolhas.

Qual valor ideal de uma mesada?

Dar R$ 1 por idade por semana é o padrão. Mas sabemos esse valor pode ser muito para algumas famílias. O importante é saber que a mesada é uma ferramenta para que as crianças aprendam a lidar com dinheiro. Não é uma forma de punição, e muito menos de premiação. Você pode colocar regras do quanto pode ser gasto e do quanto deve ser guardado, pode auxiliar nas escolhas, mas não deve decidir o que se a criança vai fazer com o dinheiro. É importante colocar um limite para ser gasto com doces e jogos eletrônicos, mas deixar a escolha para eles. Esse suporte é mais importante do que o valor em si.

Dar mesadas altas é um erro?

Sim, porque aprendemos na escassez, na dificuldade. Não se deve abrir exceções, mas usar a falta de dinheiro como um ensinamento. Uma prática muito saudável é ensinar os pequenos a anotar de quanto foi a mesada e quanto eles gastaram e aproveitar para já criar objetivos para se economizar o dinheiro.

Como fazer uma criança entender a importância do tempo, de saber esperar, quando o assunto for o dinheiro?

A espera é um treino. A criança precisa identificar o benefício desta espera. No meu caso, eu ofereço opções de mesada, por exemplo: R$ 9 por semana, ou R$ 20 a cada duas semanas, ou R$ 45 por mês. Ou fazer esta estratégia com outras coisas, como: comprar lanche na escola durante a semana ou esperar o sábado e comer em um restaurante. Claro que os pais precisam saber a que o filho dá mais valor e sempre oferecer a opção que ele enxerga como a melhor para esperar. E importante: comemore todas as vezes que a criança conseguir esperar.