CSN Mineração paga R$ 2,5 bilhões em dividendos; saiba como montar uma carteira vencedora

Distribuição de lucros acontece sempre em duas ocasiões
Pontos-chave:
  • Os setores que mais pagam dividendos são os mais tradicionais: energia elétrica, bancos e commodities
  • Quem está analisando o pagamento de dividendos deve olhar para a geração de caixa da companhia

A CSN Mineração vai pagar R$ 2,52 bilhões em dividendos, o equivalente a R$ 0,45 por ação, nesta quinta-feira (19). O valor é o saldo dos R$ 4,84 bilhões de dividendos aprovados pela companhia em assembleia geral, sendo que R$ 2,32 bilhões já foram pagos aos acionistas. Farão jus aos dividendos os acionistas na base da companhia até o dia 29 de abril. As ações passaram a ser negociadas “ex-dividendos” em 2 de maio.

Como montar uma carteira de dividendos imbatível

Uma das formas de ganhar dinheiro com ações é recebendo dividendos. Há pessoas que investem na Bolsa de Valores só para ter uma parte dos lucros das empresas – uma estratégia muito recomendada por especialistas em investimentos. Ganhar dinheiro é bom, claro, mas alguns indicadores mostram ao investidor que uma empresa nem sempre será capaz de continuar distribuindo seus lucros. O ideal é que a distribuição de dividendos seja sustentável. Conhecer os fatores que levam uma empresa a repassar os lucros é essencial para fazer esse tipo de avaliação. 

Por que uma empresa paga dividendos? 

As empresas de capital aberto não são obrigadas a pagar dividendos a seus acionistas. A principal razão para pagar dividendos é atrair investidores. Além da remuneração direta aos acionistas, as empresas podem destinar seus lucros ao pagamento de dívidas, novos investimentos e recompra de ações. 

A distribuição de dividendos acontece preferencialmente em duas ocasiões: quando o endividamento da empresa está controlado e ela não precisa quitar débitos naquele momento ou quando a companhia está em um mercado já saturado, sem espaço para grandes novidades. Neste caso, a empresa prefere atrair investidores através de dividendos porque isso lhe dará um retorno maior do que um novo projeto, por exemplo, que precisa ser testado, implementado e ainda leva um tempo incerto para dar retorno.  

Os setores que mais pagam dividendos hoje na Bolsa brasileira são aqueles mais tradicionais: energia elétrica, bancos e commodities. Note o caso das elétricas: elas operam via concessões e não há necessidade de investir mais que o acordado com o Estado, por isso o lucro é usado para remunerar os acionistas.

A mesma lógica vale para os grandes bancos: eles são bons pagadores de dividendos porque já têm suas posições consolidadas no setor e, para eles, o retorno da remuneração de acionistas é alto, já que isso atrai investidores e coloca mais dinheiro na operação. 

Como saber se os dividendos são sustentáveis?

Muitos investidores montam carteiras de dividendos. Eles compram ações pensando apenas na bonificação que as empresas vão pagar por papel. Estes precisam ficar de olho nos balanços para saber se esses pagamentos são sustentáveis e vão acontecer por muito tempo. João Daronco, analista da Suno Research, explica que a primeira coisa que o investidor precisa olhar é se o lucro da companhia é frequente. “Algumas empresas podem ter ganhos pontuais após ações na justiça, por exemplo”, comenta Daronco. 

Um indicador importante é o payout, que é o percentual do lucro que a empresa destinou ao pagamento de dividendos. Se o lucro da empresa foi de R$ 500 milhões em um ano e ela pagou R$ 250 milhões em dividendos, o payout é de 50%. “Um payout normal fica em torno de 25% dos lucros. Já as boas pagadoras de dividendos pagam de 50% a 60%” explica Daronco.

Quem está analisando o pagamento de dividendos de uma empresa também precisa olhar para a geração de caixa da companhia. Para remunerar os acionistas a empresa precisa ter um bom fôlego no caixa para não correr o perigo de ficar descoberta em caso de emergências. Portanto, o lucro não é o único fator que determina a sustentabilidade da distribuição de dividendos. 

Caso Petrobras 

A Petrobras vem causando grande impacto no mercado financeiro com sua política de distribuição de dividendos. Na última quinta-feira (28), a empresa anunciou o pagamento de R$ 31,8 bilhões em dividendos. Os acionistas receberão R$ 2,43 por papel preferencial (PETR4). Terão direito ao dinheiro os investidores que tiverem papéis da companhia ao fim do dia 1º de dezembro e o pagamento acontece no dia 15 do último mês do ano. 

O anúncio é possível graças à redução do endividamento da empresa nos últimos anos. Há cinco anos, em outubro de 2016, a dívida líquida da Petrobras era de R$ 402 bilhões. Em agosto, a dívida estava em R$ 162 bilhões. A empresa vendeu ativos para pagar antecipadamente muitas dívidas e controlou os gastos com novos projetos. 

“No geral, as empresas são muito disciplinadas financeiramente e não fazem loucuras. Elas têm metas de alavancagem e quando a dívida está controlada, distribuem dividendos”, comenta João Daronco. 

O fato relevante que a Petrobras enviou à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) mostra, na prática, alguns conceitos que vimos nesta matéria. A empresa informou no documento que “a distribuição (de dividendos) considera as perspectivas de resultado e geração de caixa da Petrobras para o ano de 2021, sendo compatível com a sustentabilidade financeira da companhia, sem comprometer a trajetória de redução de seu endividamento e sua liquidez”. 

Ou seja, a distribuição de lucros acontece quando a geração de caixa é satisfatória e o nível de endividamento está abaixo da meta da companhia. No terceiro trimestre, a Petrobras teve uma geração de caixa de US$ 10,5 bilhões. 

O analista da Suno deixa um último alerta: o setor de commodity é cíclico, ou seja, os preços dos produtos sobem e descem com frequência. “O ciclo atual está muito bom, mas o pagamento de dividendos não será para sempre nesses níveis e podemos esperar um ciclo de baixa”. O mesmo pode ser aplicado para a Vale, outra companhia de enorme importância que vem distribuindo dividendos sólidos.