Temporada de balanços: saiba ao que ficar atento e o que os analistas esperam para o setor de varejo

Investindo ou não em ações, você deve ficar de olho nos resultados
Pontos-chave:
  • A divulgação traz insights sobre performance, gestão e perspectivas de crescimento das companhias
  • Até mesmo quem investe em renda fixa pode ser afetado pelos resultados

A temporada de balanços do segundo trimestre já começou no Brasil, com empresas listadas na B3 apresentando seus resultados. Indústrias Romi e WEG deram início aos trabalhos, que deve engrenar mesmo na próxima semana, indo até o meio de agosto. Mas, afinal, o que você pode aprender com os balanços divulgados? Separamos algumas dicas para você aproveitar essa temporada e te explicamos como ela pode mexer com seus investimentos. 

Por que você deve ficar de olho nos balanços?

Aqueles que investem em ações naturalmente acompanham a temporada de balanços para entender os próximos passos e o desempenho de companhias que investem ou que estão interessados em investir. A divulgação traz insights sobre a performance dos setores, a gestão das companhias e perspectivas de crescimento. 

Mas, se você não investe em ações, saiba que também deveria ficar de olho nos balanços. “É sempre muito relevante acompanhar a trajetória financeira e operacional das companhias que sustentam o mercado acionário brasileiro. Essas empresas fazem parte do processo arrecadatório do governo, que está associado a questões fiscais e juros. Ainda conseguimos ver, pelos relatórios, a capacidade de repasse de preços das empresas em meio a um processo de inflação. Quem investe em renda fixa, por exemplo, pode ser afetado quando falamos em crédito privado”, explica Matheus Spiess, analista da Empiricus.

Quais setores devem se destacar?

Na visão de Spiess, alguns setores devem gerar resultados mais sólidos. “Acredito que commodities é um deles, já que o preço só começou arrefecer na segunda metade deste trimestre. A demanda ainda está aquecida e tem espaço para uma entrega de bons resultados. No setor financeiro, grandes bancos também devem divulgar resultados sólidos. E, por fim, o setor de energia, por conta da alta da inflação, em especial das transmissoras”, ressalta. De acordo com o analista, a temporada de balanços por aqui deve ser menos difícil (e frustrante) do que a americana. 

O que é importante saber dos balanços?

Se você quer acompanhar a temporada de balanços do terceiro trimestre, mas não sabe por onde começar, Spiess dá a dica: “Preste atenção na capacidade de repasse das empresas. Se elas estão conseguindo repassar a inflação imposta a elas e se estão sofrendo mais com os custos dessa inflação”, diz o analista. Além disso, no setor financeiro, é importante entender como a alta dos juros e o crescimento do crédito estão influenciando os resultados dos bancos. 

O que esperar do próximo semestre?

É esperado que as próximas divulgações sejam marcadas por pressão de custos, em um cenário de inflação alta no mundo e riscos de uma recessão. “Estamos passando por um aperto monetário em nível global não visto há muitos anos, com uma recessão que deve acontecer. Isso deve jogar os lucros corporativos para baixo. As próximas temporadas de resultados devem sofrer mais, mas parte desse processo de correção de ações já aconteceu. Passado esse segundo semestre, podemos ver as ações engrenando um pouco mais”, ressalta Spiess. 

As perspectivas do setor de varejo, segundo o Itaú BBA

Os analistas do Itaú BBA vão acompanhar a temporada de resultados do segundo trimestre das empresas de bens de consumo e varejo, que está programada para começar na terça-feira (26) e terminar no dia 15 de agosto. Confira abaixo os destaques dos analistas:

Farmácias

As companhias deste setor provavelmente se beneficiarão das condições favoráveis relativas ao reajuste nos preços dos medicamentos. Raia Drogasil e Panvel devem se destacar em função de seu faturamento sólido e de sua lucratividade saudável. Já a Pague Menos tende a registrar números menos favorecidos pela menor demanda relacionada à covid-19.

Varejistas de alimentos

As empresas devem sustentar um forte momento nas vendas, mas com a lucratividade praticamente inalterada na comparação anual. Destacamos o Carrefour, com sua divisão de atacarejo (C&C) apresentando as maiores vendas mesmas lojas (SSS, métrica que mede o desempenho das vendas em lojas abertas há mais de um ano) no segmento e com a rentabilidade da divisão de varejo retornando aos níveis históricos. Para o GPA, estimamos melhor crescimento das vendas mesmas lojas, juntamente com a abertura de lojas, mas a inflação continuará pressionando a lucratividade da empresa.

Comércio eletrônico

As companhias deste setor seguem enfrentando um ambiente desafiador. O Mercado Livre é, provavelmente, a empresa que deve apresentar melhor desempenho – porém, antecipamos alguma pressão na rentabilidade relacionada à inadimplência e às despesas de frete. Já para a Americanas S.A., temos que, embora a companhia deva registrar crescimento de até 16% em suas vendas totais online (GMV) na comparação anual e melhora na rentabilidade operacional (margem Ebitda), devemos ver um prejuízo líquido no período diante de um resultado financeiro mais pesado.

Varejo de vestuário

A Arezzo provavelmente será o principal destaque positivo no mundo do varejo de vestuário devido ao sólido crescimento no faturamento e na lucratividade. Destacamos também a Lojas Renner, que conseguiu repassar alguma inflação para os preços e está colhendo os frutos da melhora na assertividade da cobrança. Outros destaques positivos/negativos. Esperamos que a Smart Fit mantenha seu ritmo de recuperação. No entanto, maior depreciação e um pior resultado financeiro devem gerar prejuízo à empresa. Já a Vivara deve manter seu forte impulso de vendas, porém com leve queda na lucratividade. Enquanto isso, Natura &Co, Espaçolaser e Lojas Quero-Quero devem representar os principais destaques negativos, em vista de um cenário mais desafiador.