Inflação assusta e ações de varejo despencam: o que deve acontecer nos próximos meses?

Mercado puniu papéis de varejistas após divulgação do IPCA; investidores estão fugindo do setor
Pontos-chave:
  • Inflação ameaça as margens de lucro que já estão apertadas
  • Especialistas dizem que não é um bom momento para investir no setor

A inflação de março surpreendeu os consumidores, o mercado e, quem sabe, até o próprio Banco Central. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou para 1,62% no mês passado, na maior alta para o período desde 1994. A notícia não é boa, no geral, mas para o varejo é ainda pior. Após o anúncio, as ações das principais varejistas do Brasil despescaram. Americanas (AMER3), Via (VIIA3) e Magazine Luiza (MGLU3) caíram mais de 6,5% e tiveram os piores desempenhos do Ibovespa no pregão desta sexta-feira (8). 

Por que a inflação é tão ruim para o varejo?

O aumento de preços é o grande vilão das varejistas quando falamos de macroeconomia. Sempre que você ler uma notícia sobre o aumento inesperado de preços, pode esperar queda nas ações do setor. É claro que vários outros fatores formam o preço dos papéis, mas este é um componente importante para as cotações. O grande problema do varejo com a inflação é a margem de lucro. Como essas empresas não podem deixar as vendas caírem, muitas vezes não repassam o aumento dos preços para o consumidor final, o que corrói a margem da companhia. Para o varejo pode valer a pena ter margem menor para manter o cliente, já que a concorrência é muito alta e se o lojista não fizer isto, outros podem fazer e conquistar seus clientes. 

“As margens das companhias do setor já são pressionadas por uma questão estrutural. É difícil ver uma varejista com margem líquida acima dos 10%. A alta da inflação deixa isto ainda mais sensível”, explica Matheus Jaconelli, analista da Nova Futura Investimentos. 

Para conter a inflação, o Banco Central precisa aumentar a taxa básica de juros, a Selic, o que também é ruim para os varejistas. “Essas empresas buscam financiamento para crescer e o juros alto só encarece os novos empréstimos e piora os atuais”, diz Matheus Lima, analista da Top Gain. 

O que esperar do segundo trimestre?

Como um dos setores mais afetados pela pandemia de Covid-19, o varejo esperava um primeiro trimestre mais tranquilo em 2022. Não foi o que aconteceu. Com o preço dos combustíveis disparando, aumento inesperado da inflação e guerra na Ucrânia, as varejistas ainda não tiveram sossego. Para Lima, o investidor pode esperar que o volume de vendas suba, mas isto não significa que os resultados serão bons, já que “o encarecimento do dinheiro consome as margens dessas empresas”. Ainda é preciso ficar de olho na renda do brasileiro, que encolheu e chegou ao menor patamar desde o início da série histórica, em 2012, medida pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Ganhando menos, os brasileiros consomem menos. 

É o momento de investir no varejo? 

Segundo os especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira, é preciso ter muita cautela. “É hora de ficar de olho na taxa de juros e sentir quando teremos sua estabilidade. Ainda é um setor arriscado para aportes”, diz Lima, da Top Gain. Para Jaconelli, é preciso ser seletivo ao entrar no setor. “É bom ficar atento às empresas que estão no consumo de luxo, onde o poder aquisitivo dos consumidores é maior e há menor sensibilidade em relação à inflação”, indica o analista.