“O IPO do Nubank não vale a pena para o investidor pessoa física”

Esta é a opinião da sócia e analista de ações da Nord Research, Danielle Lopes, que analisou o lançamento das BDRs do banco digital na semana que vem
Pontos-chave:
  • O desafio do Nubank é trazer receita por correntista, que é muito baixa quando comparada a outros bancos
  • Nubank é classificado como instituição de pagamentos, o que lhe confere uma série de vantagens

Na semana que vem, o Nubank vai fazer mais um barulho no mercado financeiro. Está previso para o dia 8, quarta-feira, a abertura do capital da instituição, ou IPO em inglês. O banco digital vai ter ações listadas na Bolsa de Valores de Nova York, a NYSE, e, ao mesmo tempo, vai lançar BDRs na B3, nossa Bolsa de Valores. Os interessados devem fazer a reserva até o dia 7 (terça).

Mas, afinal, você deve ou não ter BDRs do banco digital?

Nós conversamos com a sócia e analista de ações da Nord Research, Danielle Lopes, que foi ao assertiva: “Nubank não é uma empresa saudável, ainda não gera caixa. Está no setor de tecnologia, em crescimento. Neste IPO, quem mais deve aportar são os grandes fundos, que têm muito capital. Eu vejo que a pessoa física daria um passo maior que a perna”, afirma Danielle.

Ela ressalta ainda que quem decidir entrar no IPO tem que levar em consideração que o risco de a empresa não entregar o que está prometido no prospecto. Se o lucro não acontecer em dois anos, o mercado vai punir e os preços vão cair. “O desafio do Nubank é monetizar a base de clientes, trazer receita por correntista, que é muito baixa quando comparada a outros bancos”, diz Danielle. O Nubank tem 41 milhões de clientes.

Abaixo, veja a entrevista que Danielle concedeu à IF sobre o IPO do Nubank:

Nícolas Merola, analista CNPI da inv, casa de análise independente, segue a mesma linha de Danielle. Ele usa o Banco Inter para comparar com o Nubank, porque ambos são bancos digitais que atuam no mesmo segmento. “O preço sobre receita das duas instituições é muito discrepante: 26 vezes para o Nubank e 11 vezes para o Inter”, afirma Nícolas.

Outra observação do analista é em relação ao fato de o Nubank não ser formalmente um banco, mas sim uma instituição de pagamentos, conforme consta no Banco Central (BC). “A vantagem disso é que o Nubank tem uma série de facilidades burocráticas, em prestação de contas e até tributárias. O risco vai vir quando o BC forçar a instituição a se enquadrar em todas as exigências que o próprio Inter, Itaú e Bradesco são cobrados”, diz Nícolas. Mas, se apesar de todas as considerações dos analistas você acreditar que deva ter os papeis no seu portfólio, leia o prospecto, documento com informações detalhadas sobre a operação.

NuSócios

A sacada do banco foi conclamar os clientes a participarem da compra dos BDRs por meio do programa NuSócios. Tendo alguns pré-requisitos, os interessados têm o direito de receber, de graça, um BDR da empresa, mas isso depende da demanda pelo papel. Eles têm que ter conta no banco até dois dias corridos antes do último dia do Período de Adesão ao Programa de Clientes. O investidor não pode estar inadimplente por mais de oito dias e tem que ter realizado ou recebido pelo menos uma operação em qualquer produto do Nubank 30 dias antes de aderir ao programa. A reserva é feita pelo aplicativo do banco.

As cotações

A faixa de preço dos papeis nos Estados Unidos vai de US$ 8 a US$ 9 por ação ordinária classe A, e de R$ 7,45 a R$ 8,38 por BDR, sendo que cada ação equivale a seis BDRs. Essas cotação, porém, varia conforme a alta ou baixa demanda. O IPO do Nubank é uma oferta 100% primária, ou seja: toda captação será destinada para o caixa da empresa. Só é possível abrir capital nos Estados Unidos e no Brasil ao mesmo tempo, porque a CVM permitiu a dupla listagem. Segundo o Nubank, cada BDR representa 1/6 de uma ação ordinária classe A da Nu Holdings, que a empresa mãe do banco digital e detentora da maior parte das ações ordinárias da companhia.