Investir em entretenimento é certeza de lucro?

Mercado de eventos vive dois anos em um, mas exige cautela dos investidores
Pontos-chave:
  • O setor sofre impactos que talvez nem um portfólio com Beyoncé suportaria
  • A Bolsa brasileira ainda está barata e as ações do setor ainda estão abaixo do preço
  • Os fundos de investimento começaram abrir os olhos para oportunidades na música e no entretenimento

O mercado de entretenimento foi um dos primeiros a sentir o baque da pandemia de Covid-19, com o cancelamento de apresentações ao vivo.

Para artistas melhor colocados, as receitas tiveram que vir de publicidade e das apresentações ao vivo, as lives, enquanto artistas menores e funcionários amarguraram a falta de trabalho.

Em entrevista à Bloomberg, a diretora-chefe em renda variável da Goldman Sachs Asset Management (GSAM) afirmou que ela própria tem ações de empresas do ramo de shows nos portfólios que ela supervisiona, já que artistas como Beyoncé seriam “à prova de recessão”. “O consumidor vai gastar em uma recessão, mas será bastante seletivo”, afirma.

O que você tem a ver com isso?

Fernando Alterio, CEO da Time For Fun (T4F), explica que o investidor que se interessar por este mercado deve estar preparado para enfrentar momentos de valorização e desvalorização muito rápida dos papéis, e também uma valorização mais rápida.

A TF4 é a única empresa de shows ao vivo com capital aberto no Brasil e sofreu forte queda no início da pandemia.

Vale a pena investir no mercado de entretenimento?

Para Anita Carvalho, sócia da Música & Mídia Produções, empresa de gestão de carreiras artísticas responsável pela carreira do cantor Diogo Nogueira há 13 anos, a realidade no Brasil é outra.

“Dizer que temos artistas à prova de recessão é ignorar a imprevisibilidade dessa carreira”, afirma.

Do ponto de vista econômico, ela considera correto afirmar que alguns talentos representam ativos sólidos de mercado e seriam investimentos “razoavelmente seguros”.

Anita explica que, em rápida recuperação, a música gravada cresceu 32% em 2021 no Brasil e o ECAD distribuiu 19% a mais do que em 2020.

Além disso, a gestora afirma que em 2020, o cantor Diogo Nogueira faturou 5% a mais que em 2019, período pré-pandemia.

Fundos de investimento de olho nos artistas

A indústria fonográfica tem picos de prosperidade e, não à toa, os fundos de investimento começaram abrir os olhos para oportunidades na música e no entretenimento.

Para a sócia da Música & Mídia Produções, o mercado de eventos está vivendo “dois anos em um”, com o cumprimento de agendas não realizadas no período da pandemia e novas contratações.

Prova disso é o surgimento de novos festivais de música como o Turá e os espaços lotados do Lollapalooza 2022, ambos gerenciados pela Time For Fun.

Imagem: Divulgação

Investir em ações entretenimento tem altos e baixos

A associação Pro-Música, representante da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI) no Brasil, aponta um crescimento de 32% em 2021 em relação a 2019.

Ou seja, a receita foi de mais de R$ 2 bilhões em 2021. Em 2022, o mercado se recupera e mostra bons resultados no horizonte.

“Para quem comprou antes e viu o investimento diminuir, entendo que as decisões que tomamos durante a pandemia preservaram o valor da companhia. No geral, a Bolsa brasileira ainda está muito descontada e nós fomos ainda mais descontados durante a pandemia”, afirma o CEO da TF4 Fernando Alterio.

Ele defende que momentos de baixa como o que estamos vivendo são oportunidades importantes para investir em ações do ramo, considerando o histórico de recuperação. 

Para preservar o caixa da companhia, a TF4 tomou medidas drásticas semanas depois do início do isolamento. A redução de 45% no quadro de funcionários no Brasil foi uma delas.

Alterio pontua ainda que, ao contrário da maioria do mercado, que trabalha com alavancagem, a TF4 é credora líquida e geradora de caixa, já que vende ingressos meses antes dos eventos e captura assim a receita antes de desembolsar os custos.

O setor estaria preparado para enfrentar outra crise?

Há impactos que talvez nem um portfólio com Beyoncé suportaria. Contudo, muitos aprendizados ficam após o dilúvio.

Um deles, para Anita Caralho, é que a demanda por entretenimento, arte e cultura aumentaram diante do quadro de isolamento.

“Isso demonstra a força desse setor, que, para além do valor simbólico, também se apresenta com um claro potencial econômico”, afirma a gestora, otimista de que uma possível nova crise afetaria menos o setor.

A TF4 passou a operar com uma estrutura que se adaptável à demanda e a adquirir receitas de forma mais diversificada – comprando, por exemplo, a startup de ingressos INTI.

“Se tivermos uma nova situação como essa, teremos um impacto menor e já estaremos preparados para responder de forma rápida e assertiva”, afirma o CEO da companhia.

Colaborou Anne Dias