Com medo, até os investidores mais agressivos migram para a renda fixa

Segundo a Anbima, fundos de investimentos perderam 3,5% do estoque
Pontos-chave:
  • Multimercados perdem R$ 35,2 bilhões, mesmo com o bom desempenho dos gestores
  • Renda fixa passou a representar 61,3% dos investimentos

O fluxo gigante da pessoa física para a renda fixa tem mais relação com a alta de juros do que com a oferta inadequada de opções de maior risco durante a fase de juros ultrabaixos no Brasil, segundo Ademir Correa, presidente do fórum de distribuição da Anbima.

“Mesmo os clientes com perfil arrojado estão assustados com o prolongamento desse cenário que tem afetado até quem tem mais experiência, não tem muito a ver se o perfil está certo ou se os recursos estão alocados corretamente”, disse Correa.

Multimercados perdem dinheiro

Os fundos de investimentos perderam 3,5% do seu estoque no primeiro semestre, indo para R$ 1,42 trilhão. Os multimercados tiveram um decréscimo de 5,1%, ou R$ 35,2 bilhões, mesmo com o bom desempenho dos gestores no período. Os portfólios de ações também encolheram, com perda de R$ 38,6 bilhões de janeiro a junho, com recuo de 18%. No mesmo intervalo, as carteiras de renda fixa engordaram R$ 20,3 bilhões, uma alta de 4,5% no ano.

No conjunto, a renda fixa passou a representar 61,3% do volume de investimentos do varejo tradicional, de alta renda e do público do private banking, em comparação aos 57,1% de dezembro.

A poupança segue como principal produto do varejo, com participação de 32,9%, seguida pelo CDB, com 19,9%.

Renda fixa é vista como porto seguro

O representante da Anbima, também executivo do Bradesco, disse ver procura grande dos clientes por produtos de renda fixa como um porto mais seguro. “O cenário para a renda variável segue bastante conturbado no mundo todo com o ambiente inflacionário e bolsas para baixo. A gente não vê ainda recuperação, é um momento de muita desconfiança do investidor com o mercado, esperando os próximos passos.”

Motivos da incerteza

Uma potencial recessão em meio ao aumento de juros nos países desenvolvidos, a guerra entre Rússia e Ucrânia e as eleições no Brasil são ingredientes dessa incerteza.

Para Correa, o movimento rumo à diversificação não se esgota, contudo, com a alta dos juros e a Selic de volta aos dois dígitos, em 13,25% ao ano. “O movimento de queda de juros forçou as pessoas a explorarem novas oportunidades de investimentos com maiores retornos e isso trouxe um conhecimento maior do cliente desse mercado”, comentou. “O que se nota é que a alta renda tem uma procura maior para fazer diversificação, o que é um movimento saudável.”

De olho no seu perfil

A Anbima tem trabalhado numa agenda para aprimorar o “suitability”, o enquadramento correto da oferta ao perfil de tolerância a risco. “Com a redução dos juros, a gente viu um movimento forte do cliente procurando opções de maior volatilidade e as instituições financeiras colocando cada vez mais produtos à disposição para tíquetes menores.”

Dentro da Anbima, a ideia é atualizar a autorregulação, padronizando as políticas das instituições financeiras e estabelecendo níveis de risco mínimo para os produtos.

Outro trabalho que o fórum de distribuição deve desenvolver neste ano é estabelecer algum regramento para as instituições financeiras que contratarem influenciadores digitais. Esses profissionais estariam sujeitos aos mesmos requisitos pedidos de quem atende o cliente diretamente na recomendação de investimentos.

Pessoas físicas investindo mais

No primeiro semestre, os investimentos de pessoas físicas no segmento varejo, alta renda e de private banking alcançaram R$ 4,65 trilhões, um aumento de 2,8% no semestre.

Na faixa de clientes mais endinheirados, mais expostos às classes internacionais e a alternativas de maior risco, o patrimônio encolheu 1,7%, para R$ 1,75 trilhão, enquanto o varejo de alta renda teve incremento de 5,4%, com R$ 1,29 trilhão. Na base, o varejo tradicional reunia R$ 1,61 trilhão, com alta de 5,9% no primeiro semestre.

Correa afirmou que, com o IPCA em 5,49% até junho, as carteiras não tiveram recomposição nem da inflação. “Mostra a queda do volume no private banking. Tem a ver com a queda da Bolsa, um produto que tem concentração maior desse tipo de investidor.”