Exportadoras são boas para investir, mesmo se a inflação ceder

Rali de preços internacionais, mesmo sob risco de recessão global, não deve esfriar
Pontos-chave:
  • Ainda que a inflação ceda dos atuais 11% ao ano, ela subiu tanto que não descerá para níveis mais baixos tão rapidamente
  • Ações mais sensíveis a juros tendem a oferecer saltos maiores

O campo de recuperação dos papéis mais sensíveis a juros parece farto, a se confirmar a estabilização da Selic, para posterior queda. Exportadoras, no entanto, não devem entrar exatamente em maus lençóis. Ainda que a inflação ceda no Brasil dos atuais 11% ao ano, ela subiu tanto que não descerá para níveis tão baixos assim. O mercado projeta hoje, ao fim do ano, algo em torno de 7% de alta acumulada para o IPCA. Já nas grandes economias, mal começou a luta contra a inflação. Vai longe. Ou seja, os preços das matérias-primas das vendedoras globais listadas na bolsa vão subir menos. Mas esse ‘menos’ ainda é muito e por um bom tempo.

O que deve acontecer com a JBS?

Leonardo Milane, estrategista-chefe da VLGI, entende que mesmo uma eventual recessão global em 2023, em meio ao aperto monetário guiado pelos Estados Unidos, não seria grande problema às companhias. “Vejamos a JBS. As pessoas não vão deixar de comer carne, mesmo com recessão. Tem aumento de custos com ração? Ok, mas a companhia tem facilidade para repassar aos preços finais”, diz.

Preço do petróleo não deve cair tão cedo

E a Petrobras? “O preço do petróleo não vai cair tão cedo a ponto de ficar desfavorável”, diz Milane, ressaltando que o único, e grande, risco é o eleitoral. “Quando a guerra acabar, se acabar, a Rússia vai continuar sem poder vender petróleo ao Ocidente, o que vai seguir pressionando os preços.”

Rodrigo Galindo, gestor da Novus, pensa parecido. “Fora a oferta estrangulada, os últimos acontecimentos políticos demonstraram boa governança interna da empresa (a Petrobras), que resistiu às investidas do governo”, diz. “A ação segue muito descontada, e tem perspectiva de pagamento de dividendos de 30% a 50% num horizonte de 12 a 18 meses, não dá para ignorar isso.”

A concorrente 3R, livre de risco político, recebe atenção especial do analista Lucas Carvalho, da Toro. “Ela vem de grandes aquisições, está num outro patamar de produção”, diz. “Nos atuais níveis de petróleo, resultados muito bons virão.”

Pouca oferta de celulose

Raciocínio semelhante, diz Milane, se aplica à celulose, representada na Bolsa de Valores por Suzano e Klabin. “Há poucos produtores no mundo, a oferta é restrita, não adianta ir regando mais eucalipto, não vai crescer mais rápido”, diz. “E o mundo continuará demandando, mesmo com recessão.”

Incógnita na China para a siderurgia

Já o caso de Vale e siderurgia, para Milane, é mais complexo. A depender dos rumos tomados pela China, pode vir uma turbulência. “O nível de atividade na China é sempre uma incógnita. Quando desacelera, o governo vai lá e dá um jeito de estimular o crescimento”, diz. “De todo modo, os últimos indicadores vieram piores do que o esperado, indicando alguma desaceleração. Por outro lado, de novo, o governo diz que vai dar um jeito. Então fica mais incerto o futuro.”

Resumindo a ópera, sim, ações mais sensíveis a juros tendem a oferecer saltos maiores, caso a Selic de fato troque de mão. Mas não significa que o cenário das exportadoras na Bolsa será de terra arrasada. Devem continuar encontrando fundamentos favoráveis. E, como reza o mantra da diversificação, servem de anteparo para a carteira de ações em caso de os juros no Brasil não confirmarem as perspectivas mais otimistas.