‘Errei por acreditar que investimentos poderiam ser analisados de forma racional’

Marcelo Giufrida, CEO da Garde Asset Management, com R$ 3,5 bilhões sob gestão, conta quais foram seus maiores erros cuidando do próprio dinheiro – e o que aprendeu com eles

Você certamente já cometeu erros e perdeu dinheiro. Até porque, perder dinheiro pode acontecer com qualquer um. Tanto que Warren Buffett, um dos investidores mais bem-sucedidos de todos os tempos, com uma fortuna de mais de US$ 100 bilhões, desenvolveu uma regra simples para não errar. Buffett investe apenas em empresas que ele considera consistentes e estáveis, como Coca-Cola e Apple.

Mas erros acontecem. E a gente pode aprender com o erro – melhor ainda se for com o erro dos outros. Foi por isso que a Inteligência Financeira criou a série “Meu erro”. Aqui, você vai encontrar pessoas dos mais diferentes perfis, que trabalham ou não no mercado financeiro e que perderam dinheiro ou ficaram patinando com seus investimentos.

Hoje vamos conhecer a história de Marcelo Giufrida, CEO da Garde Asset Management, gestora que tem R$ 3,5 bilhões sob gestão. Antes de comandar a Garde, Giufrida foi CEO da asset do banco francês BNP Paribas e vice-presidente do Banco CCF. Engenheiro de produção formado pela Universidade de São Paulo (USP), Giufrida conta abaixo um erro que cometeu no início da carreira, quando ele achava que o mercado financeiro era puramente racional, e zero emocional.

Qual foi seu maior erro em relação ao dinheiro?

No início da carreira, eu acreditava que os investimentos poderiam ser analisados de forma majoritariamente racional.

Você perdeu muito dinheiro?

Não perdi exatamente, mas fiquei muito tempo tentando aplicar técnicas excessivamente baseadas em finanças para lidar com investimentos, e isso foi um erro.

Por que isso aconteceu?

A literatura da época era muito influenciada pelos trabalhos de economistas que pregavam essa abordagem.

Como você descobriu que estava errado?

Com a experiência percebi que algo estava errado, comecei a ler estudos que levavam a psicologia para um lugar mais central nas decisões de investimento – trabalhos que fizeram jus a prêmios Nobel, posteriormente.

Como você contornou a situação?

Passei adotar esses princípios na minha atividade como executivo e para meus investimentos pessoais também.

Será que você poderá cometer este mesmo erro novamente?

Na vida temos que aprender sempre! Não podemos nos acomodar com soluções que aparentemente funcionam bem. A inteligência artificial está presente cada vez mais na vida das pessoas… será que pode causar o mesmo impacto nos investimentos?

Quais lições você aprendeu?

A principal lição que eu aprendi foi que temos que sempre manter a mente aberta para as inovações.

Como você avalia os investimentos hoje? Como você olha para um ativo e decide entrar ou não?

Procuro analisar os fundamentos mais gerais (da economia como um todo) e específicos (ligado ao investimento em si, por exemplo tendência dos juros ou da empresa que penso em investir).

Que ensinamento você poderia compartilhar com os menos experientes e que é a dica de ouro para você?

Direcionar para investimentos mais arrojados ou sem liquidez apenas os recursos não comprometidos. Para fazer isso, separar do total de suas aplicações os recursos para despesas imediatas (caixa de emergência) e o dos projetos (que você sabe que vai usar numa data específica, como uma viagem, uma reforma, ou a compra de um bem, por exemplo um imóvel, um carro).

Qual é o investimento para o qual você está de olho agora?

Estamos começando a olhar com mais atenção aplicações em renda fixa, após as recentes altas a curva de pré-fixados está projetando juros acima do nosso cenário para os próximos dois anos.

Qual é a próxima grande barbada no mundo dos investimentos?

Difícil falar em barbadas, nada parece óbvio quando avaliado frente a um futuro incerto e em constante mutação. Tenho tido curiosidade em avaliar o mercado de futebol, a possibilidade de investimento em clubes via as SAF (sociedades anônimas de futebol), que pode ser uma oportunidade de entrar num setor que está em ebulição no mundo todo.