Duelo IF: Rede D’or ou Hapvida, em qual investir?

Acompanhe o crescimento de duas gigantes da saúde e tome sua decisão
Pontos-chave:
  • Empresas apostam em expansão, mas estratégias são diferentes
  • A Rede D'Or é a rede com mais leitos hospitalares do Brasil
  • Hapvida é a maior operadora de planos de saúde da América Latina

O setor de saúde atravessa um momento extremamente desafiador. A pandemia de Covid-19 continua sendo um problema grave, as taxas de juros nas alturas dificultam o financiamento do crescimento e o momento do mercado acionário não é dos mais animadores. Esta edição do Duelo IF traz duas empresas que estão crescendo e apostando em aquisições para se consolidar no mercado. A Rede D’Or comprou a SulAmerica Saúde, enquanto a Hapvida adquiriu a NotreDame Intermédica. 

Antes de comparar as companhias, é preciso explicar que as duas estão no setor de saúde, mas operam de formas diferentes. O principal negócio da Rede D’Or são os hospitais e a empresa tem unidades em sete estados. Com a compra da SulAmerica, passa a atuar também com seguros odontológicos, previdência e investimentos. 

Na Hapvida, o principal produto é o plano de saúde, que está sendo reforçado com a integração da NotreDame, além de uma diversificação de portfólio, já que a nova empresa do grupo também administra hospitais. 

Rede D’Or

Entre os pontos positivos da empresa paulista está a sua escala. A companhia conta com cerca de 11 mil leitos hospitalares, número maior que os concorrentes, sendo que a Dasa tem cerca de 3.600 e a Hapvida conta com 7.230. “Uma companhia que tem muita escala tem suprimentos com custos mais baixos”, explica Rafael Ragazi, sócio e analista de ações da casa de análise Nord Research. 

A escala da Rede D’Or deve ser um trunfo para a empresa por muito tempo, já que a estratégia da companhia é crescer via aquisições e as compras já fazem parte da operação da empresa. Desde a abertura de capital, no fim de 2020, a Rede D’Or concluiu a aquisição de 17 hospitais e entrou em quatro estados do Brasil. 

“No IPO, a empresa anunciou um plano para adquirir 5.000 leitos em cinco anos e já tem 2.200 leitos. A velocidade das aquisições é maior que a esperada e a empresa está pagando menos pelos leitos do que a expectativa. A empresa paga, em média R$ 2 milhões por leito, quando o mercado esperava R$ 3 milhões”, conta Ragazi. 

Otimismo com a compra da SulAmérica

Grandes aquisições costumam ser polêmicas no mercado, mas analistas gostaram do movimento da Rede D’Or ao adquirir a SulAmérica. O negócio ainda depende de aprovação de órgãos reguladores, mas a expectativa é que seja aprovado sem restrições. 

O baixíssimo endividamento da SulAmérica é um dos pontos que agradam os analistas. A dívida líquida da empresa está em R$ 14,3 bilhões, o que significa que a companhia tem mais caixa do que dívida e é um sinal de solidez financeira. 

A aquisição da SulAmérica também representa uma expansão de portfólio importante para a Rede D’Or. “As empresas podem acelerar crescimento com a Rede D’Or para onde a SulAmérica não está presente e vice-versa. A Rede D’Or optou por fazer a gestão independente das companhias e seus hospitais não vão atender apenas planos SulAmérica, enquanto os planos também não terão apenas hospitais de Rede D’Or, como é na Hapvida”, explica Ragazi. 

Preço atraente 

A Rede D’Or é vista pelo mercado como uma empresa de crescimento, já que precisa de financiamento para continuar sua estratégia de expansão. Os juros altos não ajudam as ações da empresa, que caem mais de 33% no ano. 

Túlio Nunes, analista da Toro Investimentos, não enxerga fatores de curto prazo que podem mudar a trajetória da ação. “Fico um pouco receoso com o preço no curto prazo”, diz. Porém, o olhar para o futuro é otimista: “Com o aumento do corpo de colaboradores e captação de sinergias das empresas haverá crescimento, o que sempre é bom”. 

Expansão pode ser perigosa

A estratégia de crescimento da Rede D’Or traz consigo um risco que deve ser considerado pelos investidores. O objetivo da empresa é ter os melhores hospitais da região onde atua e à medida que cresce, fica mais difícil encontrar bons ativos no mercado e a estratégia passa a correr perigo. 

“Há o risco de aumentar a complexidade da operação e a concorrência é relevante para adquirir hospitais, além da concorrência pela preferência dos clientes”, pontua Rafael Ragazi. 

Hapvida 

Do outro lado do ringue, temos a maior empresa de saúde complementar do Brasil, com 15 milhões de beneficiários, 87 hospitais e 67 mil funcionários. A Hapvida faz parte do mercado de planos de saúde, que é um dos maiores do mundo. 

Entre as vantagens está o maior controle de custos. Isso porque a companhia tem plano de saúde, hospitais e laboratórios e consegue tratar os pacientes dentro de sua rede. 

Além disso, a Hapvida ainda tem muito espaço para crescer, já que a população brasileira está envelhecendo e a penetração de planos de saúde está crescendo no país. Em março deste ano, 49 milhões de brasileiros tinham plano de saúde, um aumento de 2,6% em relação ao mesmo mês no ano passado. 

Aquisição da NotreDame Intermédica 

O movimento mais importante da empresa em aquisições foi a compra da NotreDame Intermédica. O negócio faz diferença na estratégia da Hapvida porque não fazia sentido para a empresa comprar hospitais onde o plano de saúde não chega, mas com os hospitais e a rede de clientes da NotreDame no portfólio, este não é mais um problema para a expansão da companhia. 

Ao contrário da Rede D’Or, a Hapvida optou por uma gestão verticalizada, incorporando a operação da NotreDame e colocando seus hospitais exclusivamente à disposição dos clientes do plano de saúde. 

Incertezas preocupam 

Para Túlio Nunes, o aumento de 5,9 pontos percentuais da sinistralidade  (número de vezes que um plano de saúde é acionado para qualquer tipo de procedimento) preocupa. “Temos um surto de gripe que causa mais sinistralidade”, pontua. Além disso, a continuidade da pandemia de Covid-19 também é preocupante. Isso porque as margens das empresas são pressionadas nesse tipo de atendimento. 

HAPV3 em queda

As ações da Hapvida também sofrem forte queda no ano com o aumento da taxa de juros pressionando papéis de crescimento e pandemia de Covid-19 causando desconfiança no setor de saúde. A expectativa dos analistas é que a ação da empresa também se recupere, mas isso pode demorar. “A empresa tem pontos positivos e é a maior do setor na América Latina, mas não vejo fatores que causem mudança nos preço agora’, diz Túlio Nunes. 

Rede D’Or ou Hapvida?

Para Nunes, da Toro, as duas empresas são sólidas e estão em situações parecidas, o que torna difícil a escolha de apenas uma na hora de investir. Para Ragazi, porém, a vantagem é da Rede D’Or. “Quem ganha dinheiro na Bolsa ao longo dos anos aproveita momentos como esse para identificar oportunidades. E este é um momento de compra para quem tem visão de longo prazo. A Rede D’Or tem uma grande avenida de crescimento e não começou a negociar hospitais agora”, diz o sócio da Nord.