Ucrânia e criptomoedas: como as crises globais afetam as moedas digitais 

Criptos sentiram os impactos da aversão ao risco na última semana; a falta de lastro é um problema?
Pontos-chave:
  • Momento delicado tende a puxar para baixo o preço das criptomoedas
  • Apesar das quedas, não é hora de vender; há, inclusive, oportunidade de compra

A crescente tensão que ganha contornos de guerra na Ucrânia é o assunto do mês em todo o mundo. Além das vidas que podem sofrer impacto direto das decisões de autoridades russas, norte-americanas e ucranianas, o mercado financeiro está preocupado com as consequências da briga na economia global. Uma parcela dos investidores se preocupa especialmente com as criptomoedas, ativos de risco conhecidos pela alta volatilidade.

Nas Bolsas, a reação dos investidores não deixa dúvidas de que o medo é o sentimento predominante. Os principais índices acionários do mundo fecharam em queda ontem (22). A véspera também foi de números vermelhos mundo afora. As notícias para investidores das principais criptos também não foram boas na última semana. O bitcoin acumulou desvalorização de 15% em uma semana. O ethereum caiu 18,1% e a binance coin perdeu 14,8%. 

Tendência para criptos não é animadora

Em momentos de instabilidade no mercado, as criptomoedas não são um ativo recomendado por especialistas para quem pensa no curto prazo. É um mercado ainda muito novo, com preços extremamente voláteis, o que torna as criptos uma das classes de ativos mais arriscada. 

“Crises de impacto global tendem, de forma geral, a diminuir o apetite por risco dos investidores. Investidores tendem a buscar estabilidade nos investimentos. Por se encaixar na classe de ativos de risco, os criptoativos sofrem com esse movimento”, explica Luiz Pedro Andrade, analista de criptoativos da Nord Research. 

Outra notícia ruim para quem espera uma valorização das criptos no curto prazo é que elas têm como referência o mercado acionário norte-americano. “Elas replicam o S&P 500 por fazerem parte de um mercado ainda pequeno”, diz Raquel Vieira, analista da Top Gain. 

A referência que investidores de criptos enxergam no mercado norte-americano não significa, porém, dependência. É possível e comum que as Bolsas norte-americanas caiam no mesmo dia em que houve grande valorização do ethereum, por exemplo. Porém, em dias de noticiário morno, há uma tendência de espelhamento, segundo Vieira. 

Comprar ou vender? 

Com o cenário internacional pesando na decisão dos investidores, a recomendação dos especialistas é manter a carteira de criptos e pensar no longo prazo. E para quem pensava em aumentar sua posição nas moedas, o momento é bom, considerando que todos querem comprar na baixa e vender na alta. “Quem pensa no longo prazo deve guardar e se desfazer somente após valorização e com o mercado mais estável. O momento permite até pensar em entrar no mercado ou aumentar aportes”, opina Raquel Vieira.

Falta de lastro é um problema? 

Alguns investidores que ainda têm um pé atrás com os criptoativos podem ficar receosos com a falta de lastro, característica desses instrumentos, já que são moedas descentralizadas, independentes de governos ou qualquer autoridade. Em momentos de crise, investimentos com lastro, como os contratos do ouro, tendem a se valorizar com investidores procurando uma segurança, uma garantia de que terá algo valioso nas mãos caso “dê ruim”.

Este, porém, não costuma ser um problema para as criptomoedas, já que a descentralização e independência são seus pontos fortes. “A falta de lastro não é um problema. É, na verdade, um ponto forte das criptos, que não dependem de agentes políticos”, diz Fernanda Guardian, analista de criptomoedas da Levante.

A dica para quem ainda desconfia de uma criptomoeda pela falta de lastro é estudar mais sobre a tecnologia que suporta o mercado. “A tecnologia blockchain do bitcoin permite que a rede de compradores execute transações de valores e efetue o registro desses dados sem precisar de um intermediador. No caso do ethereum, permite que a rede de computadores execute contratos programáveis e auto-executáveis”, explica Pablo Rodrigues, estruturador de criptoativos da Hurst Capital.