Carteira administrada, que é para poucos, tende a se popularizar

Você define com um profissional em quais ativos vai investir
Pontos-chave:
  • A personalização da carteira é uma das vantagens
  • O custo envolvido para contratar a carteira administrada ainda é alto

É verdade que a carteira administrada ainda se restringe a uma parcela pequena de investidores, em geral aqueles com patrimônio de alguns milhões e que, geralmente, confiam o montante aos profissionais dos bancos mais tradicionais. Mas existe um movimento de novas empresas do mercado entrando no serviço de gestão de fortunas, mas voltado para um público com menos dinheiro, o que é quase uma alta renda.

A chamada carteira administrada, um serviço de gestão de investimentos bastante conhecido lá fora, mas ainda incipiente entre os investidores de varejo por aqui, tem uma estratégia focada nos objetivos financeiros da pessoa e, para isso, leva em conta, sobretudo, o perfil e o apetite ao risco do investidor. Em outras palavras, basicamente, ela pode ser resumida em três características:

  • gestão profissional,
  • alinhamento de interesses,
  • personalização.

Como funciona uma carteira administrada

Valter Police, planejador financeiro pessoal CFP®, faz uma analogia entre a carteira administrada e o serviço de culinária para explicar de forma simples. “Vamos imaginar um jantar: você vai à feira para comprar vários ingredientes para tentar fazer um prato. E, enquanto você caminha pela feira atrás dos itens, todos os feirantes vão falando para você que o produto deles é o melhor. Na prática, isso é o que acontece com um investidor que vai em um banco ou em uma corretora. Tem diversas opções de produtos individuais que ele tem que escolher para juntar em uma carteira e a todo momento tem alguém falando que o dele é melhor”, explica.

“Na carteira administrada acontece a mesma situação, mas você contrata um chefe de cozinha, então não precisa ir à feira. É só você falar quais comidas e temperos gosta, e então o chefe vai comprar os produtos para fazer o jantar, com uma receita dele, mas baseada no que você falou que gosta. Ou seja, você abre a sua cozinha para o cozinheiro, mas quem pilota o fogão é ele”, continua.

A ideia de ter um gestor profissional escolhendo os produtos de investimento de acordo com o seu perfil de investidor, como ocorre via carteira administrada, parece ser muito mais eficiente do que fazer a seleção por conta própria, não é?

Os bancos tradicionais oferecem esse serviço personalizado há muitos anos, mas de forma exclusiva às áreas de private e wealth, ou seja, só para os clientes que têm mais de milhões na conta. Então, apesar de ser uma maneira mais fácil de investir, tratava-se de uma opção ainda muito voltada para o público de alta renda. O tema ainda é pouco conhecido e falado entre os investidores de varejo. Mas isso está mudando.

A principal vantagem desse tipo de serviço é a gestão profissional por trás do negócio, que funciona como uma mão na roda para aqueles que não têm conhecimento sobre o mercado financeiro e as classes de investimentos disponíveis para investir. A carteira administrada também pode ser vista como um grande benefício para quem vive na correria e/ou não tem tempo para se dedicar ao assunto e estudar os ativos, bem como acompanhar o mercado no geral, já que a tarefa árdua de montar uma carteira é delegada para um gestor.

Carteira de investimento personalizada

A personalização da carteira para o investidor é outra característica que se destaca na ponta positiva, uma vez que estamos falando de um serviço contratado por uma pessoa específica e customizado conforme os objetivos pessoais e o nível de exposição ao risco dela.

Essa, inclusive, é uma das principais diferenças entre uma carteira administrada e um fundo de investimento, conforme pontua Police. “O serviço é muito mais personalizado do que um fundo porque é feito para alguém, é individualizado. Vamos supor uma casa e um prédio: a primeira é a carteira administrada, enquanto o prédio é o fundo, ou seja, você não pode fazer mudanças na estrutura, como trocar uma janela ou um ativo, por exemplo”, compara o planejador financeiro.

Outro ponto importante é a questão do alinhamento de interesse, que também se estende para a transparência. Isso porque os profissionais contratados são remunerados pela atividade de gestão da carteira administrada e não pela escolha dos produtos que são alocados, como pode acontecer com os agentes autônomos de investimento, por exemplo. Ou seja, não existe um estímulo de recomendar produtos mais caros para o cliente, mas que não necessariamente são os melhores, só pela taxa de rebate que recebem.

Entenda o que é a taxa de rebate

Quando uma pessoa recorre a uma corretora ou banco para investir em algum ativo, a sensação é a de que o serviço é gratuito, mas vale lembrar que o profissional da instituição não trabalha de graça. Neste caso, ele recebe um percentual, chamado de taxa de rebate, que nada mais é que uma comissão paga pela distribuição de produtos financeiros, como os fundos de investimentos. E quanto mais ele vende um ativo específico, maior é o valor recebido do rebate. É aí que entra o questionamento: será que o profissional está realmente trabalhando para o investidor ou para o fornecedor do produto?

Na carteira administrada, por sua vez, esse conflito não existe, pois o gestor só ganha em cima da administração. As escolhas dos ativos que o profissional faz não mudam a remuneração dele e, por isso, existe um alinhamento de interesse entre os dois lados. Além disso, ainda que a tomada de decisão seja delegada para quem entende do assunto, os produtos são adquiridos na conta do próprio investidor que contrata o serviço, então ele consegue acessar a carteira sempre que quiser e, assim, ter acesso total aos custos.

Fique atento à carga tributária

Um ponto que vale prestar atenção diz respeito à parte tributária, que, a depender do investimento, pode tornar a carteira administrada vantajosa ou não. Neste caso, a incidência do Imposto de Renda fica sujeita aos ativos que o investidor possuir em seu nome. Ou seja, como cada produto carrega as suas próprias regras e especificações, a taxação é aplicada de forma individual.

Para efeito de comparação, todas as operações de compra e venda que o gestor de um fundo de investimento faz não geram Imposto de Renda. No entanto, a taxa incide no momento em que o cotista resgata o valor aplicado mais o lucro. Em alguns fundos existe, ainda, o come-cotas, que antecipa o imposto de renda mesmo que o investidor não tenha solicitado o resgate. Na carteira administrada, por sua vez, o investidor paga o imposto de renda toda vez que o gestor compra ou vende um ativo.

Em um fundo de investimento no qual o gestor comprou e vendeu uma LCI, ganhou dinheiro e não pagou imposto, por exemplo, esclarece Police, o cotista será taxado sobre o lucro da LCI apenas quando ele fizer o resgate do dinheiro. Já na carteira administrada o investidor não paga a taxa porque a LCI é isenta de imposto para a pessoa física.

Na ponta oposta, no caso de um CDB, quando o gestor da carteira administrada compra e depois vende o produto com lucro, o cliente paga imposto de renda. Mas, em um fundo, o tributo só é cobrado quando é feito o resgate ou no come-cotas. Portanto, alguns ativos são mais interessantes dentro de um fundo enquanto outros faz mais sentido ter dentro de uma carteira administrada. Tudo isso precisa ser levado em consideração na hora de escolher por qual veículo vale mais a pena ter as suas aplicações.

“Não dá para falar que um tem vantagem sobre o outro porque depende do tipo de gestão, dos tipos de ativos que têm dentro da carteira e da periodicidade que é feita a rotação dos produtos”, resume Police.

As desvantagens de uma carteira administrada

Um ponto negativo, e que justifica a falta de conhecimento entre a maioria dos investidores brasileiros sobre a carteira administrada, é a necessidade de a pessoa precisar ter um patrimônio alto para aderir ao serviço. Apesar do movimento atual de empresas buscando alternativas para ampliar o volume de investidores, na maior parte dos casos o acesso só está disponível para aqueles com capital acima de, pelo menos, R$ 1 milhão.

Além da limitação por conta do valor mínimo necessário, outra desvantagem é o custo envolvido para contratar a carteira administrada. Como se trata de um serviço particular, em que o cliente conta com a experiência de um gestor para administrar e operar os seus investimentos, há uma despesa extra além das taxas cobradas pelos próprios produtos selecionados pelo profissional.

“O custo da carteira é o gasto com o profissional que vai fazer a gestão. E vale lembrar que o investidor não deixa de ter as despesas dos produtos que fazem parte do portfólio. Voltando à analogia do chefe de cozinha, quando você contrata esse serviço, ele ainda precisa comprar os ingredientes. Portanto, estamos falando de um custo adicional”, explica Police.

Algo que acontece na prática, porém, é um acordo entre as equipes de gestão e os fornecedores de produtos financeiros que possibilita incluir o ativo na carteira a um custo menor do que se o cliente investir por conta própria. “Então tem o custo adicional, mas os investimentos que estão dentro da carteira acabam ficando mais baratos”, pondera.

O valor cobrado pela gestão da carteira administrada, chamado de taxa de administração, é definido em cima de um percentual sobre o patrimônio do cliente e costuma ficar entre 0,5% e 1,5%. Mas é comum entre as instituições financeiras diminuir essa taxa conforme o tamanho do capital do cliente, ou seja, quanto mais dinheiro o investidor tiver, menor tende a ser o percentual.

Além da taxa de administração, algumas empresas que oferecem o serviço também cobram uma taxa de performance, como acontece nos fundos, que pode variar entre 10% e 20% e é aplicada em caso de o desempenho da carteira superar um índice de referência (o “benchmark”) ao longo do tempo.