Aumento dos juros: veja como ficam os investimentos

É preciso diversificar, mas fuja da poupança, que deve continuar perdendo para a inflação
Pontos-chave:
  • Ativos pós-fixados blindam o investidor da inflação crescente
  • Bolsa continua barata, mas você deve ter estratégia de longo prazo

A decisão do Copom de elevar a Selic de 10,75% para 11,75% ao ano irá elevar o rendimento de investimentos em renda fixa como CDB e Tesouro Selic. Já a tradicional caderneta de poupança seguirá com o retorno travado em 6,17% ao ano + TR (Taxa Referencial), perdendo para a inflação e para outras aplicações.

Comparativo de investimentos

Simulações do buscador de investimentos Yubb mostram que, com a Selic a 11,75%, o retorno líquido (rentabilidade descontada a inflação e o Imposto de Renda) projetado para diferentes investimentos de renda fixa continuará superando de longe o oferecido pela caderneta poupança, com rendimento de até 6,42% para o período de 12 meses.

As maiores rentabilidades projetadas são para as debêntures incentivadas, que são títulos emitidos por empresas para financiar seus projetos e operações e que são isentos de Imposto de Renda, da mesma forma que as aplicações em LCI (Letras de Crédito Imobiliário) e LCA (Letras de Crédito do Agronegócio).

A Selic mais alta tende a manter atrativos os investimentos em CDBs, que contam com a garantia do FGC para aplicações de até R$ 250 mil e também costumam oferecer liquidez diária. “O aumento da Selic traz maiores ganhos para novos investimentos em todas as classes de renda fixa, com um impacto mais direto e perceptível nos ativos pós-fixados, que são aqueles que acompanham a taxa de juros”, afirma João Guilherme Penteado, CEO e fundador da Apollo Investimentos.

Aumento dos combustíveis gera inflação

Importante destacar, porém, que após o forte aumento nos preços dos combustíveis anunciado pela Petrobras, os economistas do mercado financeiro elevaram estimativa de inflação em 2022 de 5,65% para 6,45%, reduzindo assim potencial de rentabilidade líquida real dos investimentos.

Poupança perde para a inflação há 18 meses

Desde o final do ano passado, quando a Selic ultrapassou o percentual de 8,50% ao ano, a rentabilidade da poupança voltou à regra antiga, deixando de pagar 70% da taxa básica de juros e passando a ter rendimento fixo de 6,17% ao ano + TR – o mesmo que já era pago para a chamada “poupança velha” (depósitos feitos até abril de 2012).

A regra em vigor é a seguinte:

  • Selic de até 8,5%: rendimento limitado a 70% da Selic + TR para novos depósitos e rendimento de 0,5% ao mês + TR (6,17% ao ano + TR) para depósitos feitos até 2012
  • Selic maior que 8,5%: rendimento fixo de 0,5% ao mês + TR , ou 6,17% ao ano + TR, para depósitos novos e antigos – independente da taxa de juros que estiver em vigor

Em fevereiro, a rentabilidade da poupança em 12 meses, descontada a inflação medida pelo IPCA, ficou negativa em 6,01%. Já são 18 meses seguidos em que a caderneta perde para a inflação, segundo levantamento da provedora de informações financeiras Economatica. Em outras palavras, quem tem dinheiro na caderneta, está perdendo poder aquisitivo.

Quanto rendem R$ 1 000 na poupança?

Com a Selic em 11,75% ao ano, a Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac) estima que as contas antigas e novas da poupança terão um rendimento mensal de 0,60% ao mês, o que corresponde a um rentabilidade de 7,44% ao ano, já incluindo no cálculo a variação da TR, que saiu do zero desde o final do ano passado.

Veja como como ficaria uma aplicação no valor de R$ 1 000:

  • Selic a 11,75%: rendimento de R$ 74,40 em 12 meses, totalizando R$ 1 074,40 ou 7,44% ao ano, considerando a manutenção da Selic no patamar de 11,75% ao ano.
  • No curto prazo, a poupança tende a continuar perdendo para a inflação. De acordo com a última pesquisa Focus do Banco Central, os analistas estimam um IPCA de 0,90% em março e de 0,80% em abril, acima portanto da rentabilidade mensal da poupança.

Investimentos mais buscados

Levantamento do Yubb mostra os investimentos mais buscados no mercado financeiro em março, entre os dias 1 e 14 . Veja abaixo o ranking:

  • CDBs
  • Tesouro Direto
  • LCI/LCA
  • Fundos multimercado
  • Fundos de ações
  • LC/RDB
  • Ações livres
  • Fundos de índice (ETFs)
  • Criptoativos
  • Fundos imobiliários (FIIs)

Onde investir?

No cenário atual, a renda fixa tende a continuar desbancando a renda variável na alocação de recursos. Analistas têm destacado que o Brasil deve terminar 2022 com um dos maiores juros reais entre as principais economias do mundo, isto é, quando se desconta a perda pela inflação no retorno pago pelos títulos atrelados à Selic. Ou seja, o retorno de investimentos de renda fixa tendem a ganhar da inflação no ano, se mostrando uma opção rentável e de baixo risco. A expectativa atual do mercado é de que a Selic terminará 2022 o ano em 12,75% ao ano, o que embute novas elevações nos próximos meses.

“Com aumentos contínuos da Selic somados à pressão inflacionária do conflito na Ucrânia e as sanções econômicas aplicadas à Rússia, os ativos pós-fixados e os IPCA+, que blindam o investidor da inflação crescente, são os mais atrativos. Ações e fundos imobiliários perdem espaço nesse contexto”, observa Penteado.

Maior rentabilidade, maiores prazos

No confronto entre CDBs x Tesouro Direto, os títulos de bancos médios tendem a levar vantagem sobre os papéis atrelados à Selic. “É relativamente fácil encontrar investimentos que remunerem a 110% ou mais do CDI, o que supera a taxa do Tesouro Selic”, diz o analista. Vale sempre lembrar que maiores rentabilidades costumam estar associadas a aplicações financeiras com prazos de vencimento maiores. Portanto, na hora de investir é preciso avaliar os objetivos do investimento, a necessidade de eventual resgate no curto prazo e a disposição a assumir um maior risco.

O que deve acontecer com a Bolsa de Valores?

Já os investimentos em Bolsa de Valores continuam sendo pressionados pela maior alocação de recursos na renda fixa. Os analistas destacam, porém, que o período pode conferir oportunidades interessantes, principalmente para o investidor paciente, uma vez que a precificação das ações brasileiras se encontra abaixo da média histórica da B3 e das bolsas de outros países emergentes.

Atenção aos fundos de investimentos

Com relação aos fundos de investimento, a principal vantagem é a contratação de uma gestão profissional de uma carteira diversificada de ativos. A Anefac alerta, porém, que fundos de renda fixa costumam cobrar taxas de administração e que quando essas superam 2,5% ao ano o rendimento líquido chega a ser inferior ao que é pago pela caderneta de poupança. “Com uma elevação ainda maior dos juros globais, tem-se uma deterioração dos investimentos de renda variável e maior atratividade de títulos de renda fixa pública e privada. No entanto, é fundamental que o investidor se atente à rentabilidade e escolha investimentos com rendimentos superiores à inflação”, diz Bernardo Pascowitch, CEO e fundador do Yubb.

Com reportagem do g1