Google, Facebook e Netflix: por que essas empresas estão na mira dos analistas, se as ações caem?

Conhecer o racional dos gestores pode te orientar a fazer boas escolhas
Pontos-chave:
  • Quando os mercados estão em queda, muitos investidores consideram difícil fazer escolhas
  • Nunca é suficiente analisar o mercado por ações negociadas na baixa

Quando o mercado de ações é penalizado, as oportunidades surgem, ou pelo menos é o que parece. Mas num momento de baixa, a chave para o investimento de sucesso é separar as ações vendidas irrefletidamente do lixo sobrevalorizado, informou a revista americana Barron’s.

Com cerca de dois terços das ações do S&P 500 em baixa de mais de 20% na comparação às máximas recentes e com o próprio índice em baixa de 15%, muitas ações estão em promoção. Os investidores têm as suas escolhas de quase todos os setores, desde os serviços de comunicação e tecnológicos a produtos essenciais e discricionários.

Onde investir quando as Bolsas caem?

Mas o mercado de ações não é como uma loja de roupa, onde as pechinchas são alegremente escolhidas, mesmo que nem todas fiquem bem quando se chega a casa. Em vez disso, quando os mercados estão em queda, muitos investidores consideram difícil fazer escolhas, com o receio de que irão ter mais um peso que só vai contribuir para piorar ainda mais seus portfólios. Mas há oportunidades na confusão.

“O caos criou algumas oportunidades de compra”, diz Andy Kapyrin, codiretor de tecnologia da RegentAtlantic. “Vale a pena entrar no meio do caos.”

Os períodos de baixa parecem sempre expor as avaliações elevadas, a contabilidade ruim e os resultados fracos, entre outros problemas. E nunca é suficiente simplesmente analisar o mercado por ações que estejam negociando no limiar inferior dos seus intervalos de “valuation” — o indicador preço/lucro de uma ação não é o único sinal de que ela está de fato barata.

“O primeiro passo é perguntar se a ação é tão barata como parece”, diz Chris Senyek, estratega-chefe de investimento da Wolfe Research. O segundo “é olhar para a durabilidade dos lucros”.

Para quais fatores os gestores olham?

Não é fácil. Jim Rocchio, cofundador da Kailash Concepts Research (KCR), diz que sua equipe analisa fatores como retorno patrimonial e as diferenças entre o lucro reportado, o lucro real e o lucro caixa, assim como outras métricas. A ideia é encontrar companhias de alta qualidade que negociam com valores razoáveis.

A seguir, seis papéis que preenchem esses requisitos:

Google: futuro brilhante

A dona do Google, a Alphabet, caiu cerca de 26% em 2022, mais 11 pontos percentuais do que a descida de 15% do S&P 500. Mas essa queda fez maravilhas com os chamados múltiplos da ação, que caíram para 18,6 vezes os lucros futuros em 12 meses, comparados a mais de 25 vezes no início do ano. Ainda assim, pouco mudou para a Alphabet, e o futuro ainda parece brilhante. As vendas e os lucros devem crescer 15% e 19% em 2023 comparados a 2022, respectivamente. O Google ainda domina as buscas online e vendas de anúncios, e ainda é uma máquina de fluxo de caixa. A Alphabet gerou US$ 67 bilhões em fluxo de caixa livre em 2021, e deve vir com cerca de US$ 339 bilhões entre 2023 e 2025. Como diz o ditado, siga o dinheiro.

Lam Research: investidores recebem pelo que pagam

A atual escassez de chips é boa notícia para a Lam Research, que fabrica os equipamentos que produzem os semicondutores, certo? Nem tanto. As ações da Lam caíram 29% neste ano, já que a empresa teve de enfrentar seus próprios gargalhos de abastecimento, sem contar os custos mais altos. Ainda assim, o papel negocia por apenas 14 vezes seus lucros projetados em 12 meses. É um desconto em relação à sua própria média de cinco anos de 14,8 vezes e as 17,4 vezes do S&P 500. Apesar do desconto, vendas e lucros devem crescer 7% e 10%, respectivamente, no ano calendário de 2023, e o fluxo de caixa livre pode chegar em US$ 5,1 bilhões. Mais que isso, tanto os dados da Wolfe Research e a análise da KCR mostram que a contabilidade é robusta. Os investidores recebem pelo que pagam.

Meta Platforms: ação de valor

Há muito o que se questionar sobre a dona da Facebook, a Meta Platforms, cujas ações caíram 43% neste ano. As vendas da empresa de redes sociais ficaram bastante abaixo as expectativas de Wall Street devido às mudanças na Apple e à concorrência do TikTok. A Meta irá gastar muito dinheiro para construir o metaverso e cumprir o prometido. As vendas da Meta devem crescer cerca de 16% em 2023, e gerar cerca de US$ 31 bilhões em fluxo de caixa livre. As ações da Meta negociam a apenas 15,7 vezes os lucros futuros em 12 meses, um desconto em relação ao S&P 500. “O Facebook com desconto em relação ao mercado?”, diz Kapyrin, da RegentAtlantic. “Trata-se de uma ação de valor de acordo com a definição da maioria das pessoas.”

Micron Technology: geradora de fluxo de caixa

A Micron Technology, que fabrica chips de memória para aparelhos eletrônicos, quase sempre está barata. Mas depois de cair quase 24% em 2022, a ação está realmente barata. A Micron negocia por apenas 6,2 vezes o lucro, abaixo de sua média de 8,9 vezes. Isso é um reflexo da natureza cíclica da Micron (e do setor de chips de memória), apesar que agora os negócios parecem estar entrando num ciclo de alta, com a expectativa de vendas e lucros crescerem 16% e 24%, respectivamente, no próximo ano. Além disso, a empresa é uma geradora consistente de fluxo de caixa livre — US$ 3,4 bilhões em 2021, com US$ 8,8 bilhões e US$ 10,6 bilhões esperados para 2023 e 2024, respectivamente.

Netflix: menos dívidas

A bolha da covid-19 da Netflix estourou e as ações caíram rapidamente. As ações perderam 68% em 2022, cerca de metade do que estavam no início da pandemia, em março de 2020. A concorrência do streaming de vídeos cresceu e cortou o crescimento de assinantes da Netflix. A empresa recentemente experimentou a primeira queda de novas assinaturas desde 2011. Mas, agora, a Netflix parece ser uma situação de investimento de valor. As ações negociam por 17,9 vezes os lucros futuros em 12 meses, abaixo da média de cinco anos de 67,7 vezes e ligeiramente acima do S&P 500. Isto é barato “para uma empresa com margens de lucro elevadas, um futuro brilhante e menos dívida” do que a ação média, diz Kapyrin, da RegentAtlantic.

Teradyne: um dos melhores balanços do S&P 500

As ações da Teradyne, que faz equipamentos de teste para indústria de semicondutores assim como robôs para automação industrial, caem cerca de 36% no ano, com mais da metade dessa queda no dia que a companhia divulgou projeções de vendas decepcionantes. A projeção, no entanto, não era ruim por causa da falta de demanda, mas devida a atrasos no desenvolvimento de tecnologia. O papel negocia por 20 vezes o lucro projetado e a Teradyne tem um dos melhores balanços do S&P 500, de acordo com a KCR.