Em pouco menos de três meses, 2022 já trouxe consigo o cancelamento de 22 IPOs no Brasil. Os cancelamentos acontecem por conta da conjuntura atual do mercado, justificam as empresas. Algumas vão esperar uma nova janela de ofertas. Outras nem isso. Mas, afinal, qual é a leitura que você, investidor e investidora, pode fazer? Como esses cancelamentos impactam no seu bolso?
Por que tantos cancelamentos?
As condições ruins de mercado citadas pelas empresas têm nome: juros altos, inflação e tensão política. Esses são os ingredientes para gerar aversão ao risco e fazer com que os investidores procurem por opções com segurança e maior liquidez. As ações têm boa liquidez, mas existem ativos muito mais seguros para momentos de incerteza como o atual.
A Bolsa de Valores está barata?
Sempre há oportunidades nos investimentos, especialmente em momentos de tensão. E se as vendas (IPOs) estão em banho-maria, pode ser um bom momento para comprar. A lógica é que o vendedor quer vender mais caro, enquanto o comprador quer comprar mais barato, e se o vendedor está evitando vender, o momento é bom para comprar.
Para João Daronco, analista da Suno Research, “não é só isso” que faz o momento ser bom para quem quer comprar ações. “Quanto maior a aversão ao risco, com a tendência de escolha de ativos mais seguros, menores são os preços que os investidores estão dispostas a pagar em IPOs e, consequentemente, menores os valuations que os IPOs poderiam ter”, explica o especialista. Ou seja, o adiamento de IPOs somado a outros fatores mostram que é um bom momento para o lado comprador.
Cancelamento de IPOs é preocupante?
Quem vê as notícias e ainda não entende como funciona o mercado de ações pode se assustar e pensar em sair ou nem entrar na Bolsa de Valores. Porém, os especialistas garantem que este é um comportamento comum do mercado e não há motivos para grandes preocupações. “Não acredito que este seja um problema do mercado de ações brasileiro. Não é um retrocesso, nem um problema estrutural”, diz Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos.
De fato, este não é um cenário exclusivo do mercado brasileiro. Só em janeiro, US$ 26,7 bilhões foram precificados em ofertas públicas iniciais globalmente, um número que pode parecer robusto, mas representa queda de 60% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Daronco também vê os cancelamentos como movimento natural do mercado, mas pontua: “o mercado brasileiro está em desenvolvimento e existe uma necessidade de um maior número de empresas na Bolsa”.
Menos ações, mais paciência
Para você, investidor e investidora, só resta ter paciência. “É um comportamento cíclico, vai haver outra janela de oferta, mas agora precisamos de muito mais cautela e esperar a próxima janela, que virá quando as condições melhorarem um pouco”, diz Komura.