Cresce o número de brasileiros em busca de consórcio; será que este produto serve para você?

De janeiro a setembro, foram negociadas 2,95 milhões de novas cotas, crescimento de 14,1% em relação a 2021

Nos últimos anos, as altas taxas de juros influenciaram diretamente no crescimento do consórcio, devido ao encarecimento dos empréstimos bancários, gerando uma procura por novas opções. Mas será que este tipo de produto é interessante para todo mundo?

O consórcio existe desde a década de 1960 e já passou por vários tipos de governos, entre ditaduras e democracias, e anos de bonança e de restrições econômicas. Entretanto, nunca deixou de crescer. De acordo com Associação Brasileira de Administradora de Consórcios (Abac), atualmente, são mais de 9 milhões de consorciados ativos em todo o país que confiam na resiliência deste produto.

Ainda segundo a Abac, de janeiro a setembro de 2022 foram negociadas 2,95 milhões de novas cotas. Ou seja, crescimento de 14,1% em relação ao ano anterior.

Quais os motivos para esse aumento na procura?

De acordo com Fernando Lamounier, diretor de novos negócios da Multimarcas Consórcios, o crescimento significativo da demanda por consórcios deve-se à imprevisibilidade da taxa de juros, o que prejudica a aquisição de bens de valor pelo financiamento. “Além disso, o aumento da demanda também se dá graças à necessidade de planejamento financeiro que está se impondo à população devido à situação financeira atual”, explica. Portanto, uma das vilãs desse crescimento é exatamente a dificuldade de planejamento financeiro.

Além disso, vale saber que o consórcio pode ser um substituto do financiamento, entretanto, são produtos diferentes. Enquanto o segundo foca no bem imediato e deixa uma dívida grande, o primeiro é uma forma de acumular patrimônio que, de certa forma, pode ser ser mais barata.

“Ao mesmo tempo que nos falta a cultura de poupar, nos falta também o dinheiro. O pouco que o brasileiro ganha dificilmente alcança um investimento grande. O consórcio, portanto, entra como uma poupança forçada. Com o tempo, o produto se transforma em um patrimônio que não seria acumulado de outra forma”, explica Lamounier.

Mas, afinal de contas, o que é um consórcio?

O consórcio é, antes de qualquer coisa, um “direito de compra” e não necessariamente a compra do bem em si. Diferentemente do financiamento, não há incidência de juros, mas sim taxa de administração. Os tipos de consórcios são variados. Vão desde aquisição de imóvel, de automóvel, de máquinas e até mesmo contratação de serviços (festas de aniversário, cirurgia plástica, casamento, cursos, etc).

“No consórcio você participa de um grupo de pessoas que têm o mesmo objetivo que você. Ou seja, se a sua finalidade é comprar um imóvel, você e as outras pessoas do seu grupo que também desejam adquirir o bem do mesmo valor que o seu pagarão mensalmente a carta de crédito e formarão uma poupança conjunta. Esse valor será utilizado para comprar o imóvel. E, por meio de sorteios ou lances, um participante de cada vez será beneficiado e terá acesso ao bem”, explica Jaiana Cruz, planejadora financeira CFP e sócia da AVG Capital.

Para qual perfil o consórcio funciona e para qual não funciona?

O consórcio é mais adequado para quem não têm o hábito de guardar dinheiro. Muita gente consegue manter todas as suas contas em dia, mas apesar disso, não consegue juntar dinheiro. Se essa pessoa acrescentar o boleto de um consórcio nas contas mensais dela, possivelmente vai conseguir pagá-lo. E ainda conquistar o imóvel ou o carro que deseja.

Entretanto, o consórcio não é interessante para aquela pessoa que têm o hábito de poupar e deseja contratar uma carta apenas com o objetivo de acumular patrimônio. Ou seja, aquele indivíduo que não tem pressa em conquistar o bem. Vale muito mais a pena acumular o dinheiro em uma carteira de investimentos e fazer a compra à vista quando tiver acumulado o dinheiro necessário.

Dicas para quem quer adquirir um bem sem entrar no consórcio

Se você percebeu que o consórcio não é a melhor opção para você, a alternativa mais adequada, então, é o investimento. Afinal de contas, o consórcio tem prazo médio de 15 anos. A partir daí, se a pessoa investir mensalmente o valor da parcela a uma taxa anual de 9%, ao final do mesmo período, terá um valor 15% maior do que se tivesse ido pelo consórcio. “Quem não tem pressa de adquirir um bem e mesmo assim não deseja contratar um consórcio pode optar por investir o dinheiro e comprar à vista lá frente por um valor menor. Nesse caso, o dinheiro terá rendido e o valor do bem poderá ser negociado com desconto”, acrescente Jaiana.

Colaborou: Daniel Navas